tag:blogger.com,1999:blog-58941059864211675102024-03-06T00:20:45.084-03:00NÃO ME MANDEM CORESUm blog (quase) em preto e brancoHeitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.comBlogger819125tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-49449519401055245312010-09-21T16:00:00.001-03:002010-09-21T16:01:40.285-03:00Illuminated<object style="background-image:url(http://i2.ytimg.com/vi/I2aCANYiwv0/hqdefault.jpg)" width="480" height="295"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/I2aCANYiwv0?fs=1&hl=pt_BR"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/I2aCANYiwv0?fs=1&hl=pt_BR" width="480" height="295" allowScriptAccess="never" allowFullScreen="true" wmode="transparent" type="application/x-shockwave-flash"></embed></object>Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-26029859951961822302010-09-20T21:14:00.000-03:002010-09-20T21:16:04.147-03:00sinto mintoAs mentiras em que mais caimos são aquelas que nós mesmos nos contamos.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-33008188760109136412010-09-19T05:14:00.001-03:002010-09-19T05:15:45.161-03:00Ya no se que hacer conmigo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TJXGnfdqdzI/AAAAAAAACAY/k_fIiLQu-Mg/s1600/hector.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 127px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TJXGnfdqdzI/AAAAAAAACAY/k_fIiLQu-Mg/s320/hector.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5518535300175525682" /></a>Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-13867335868769180472010-09-18T01:55:00.001-03:002010-09-18T01:55:40.330-03:00Caio F.Não, você não sabe, você não sabe como tentei me interessar pelo desinteressantíssimo.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-73329456187538913282010-09-16T12:50:00.000-03:002010-09-16T12:52:19.537-03:00Porque ela é fodatrafegava com uma viatura da polícia a minha frente e um carro da CET atrás > sabes bem: não tenho carteira > não achei ruim, porque, de certa forma, estar cercada pela lei poderia me manter longe de acidentes > pararam violentamente, tiraram-me do carro à força - estavam armados - pagaram cervejas, deram-me conselhos > sim, amor, falaram de ti. <br /><a href="http://semgelo.zip.net/index.html"><br />AQUI</a>Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-49684796834868120272010-09-13T23:41:00.002-03:002010-09-13T23:57:29.355-03:00O clone<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TI7hjR5oNUI/AAAAAAAACAQ/3MEeLvSU1Vc/s1600/rain.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 130px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TI7hjR5oNUI/AAAAAAAACAQ/3MEeLvSU1Vc/s200/rain.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5516594589792220482" /></a><br />Tô a fim de fazer um clone meu. Não deve ser coisa muito complexa hoje em dia. Talvez tivesse que esperar um pouco, mas nada que demorasse muito, pois tenho certa urgência. Tenho um amigo num laboratório da USP, que já incumbi de fazer umas pesquisas, tal. Entreguei a ele, num saquinho plástico, uma antiga tampa de canetas BIC, que durante muito tempo usei para limpar os ouvidos. Acredito que o objeto, depois de tanto tempo em contato com minhas secreções auditivas, seja o suficiente para um começo de tentativas, análises, estudos de seja lá o que for necessário para dar início ao projeto. O outro eu. No intuito de acrescentar algumas singelas alterações no dito cujo logo no início do processo, vou solicitá-las. Em se tratando de um projeto, que embora sendo uma cópia minha, pretende-se totalmente novo, nada mais justo do que pelo menos tentar essas pequenas alterações. Nada muito drástico e que fuja muito do original, afinal trata-se de um clone, e como tal, deve me substituir. Seriam duas pequenas alterações, só pra deixar o clone mais coerente e enxuto, se posso chamar assim. Ele poderia só ter o nariz um pouquinho menor e o pau um pouquinho maior que os originais. Claro, muito sutilmente, nada que destoasse visivelmente do seu original, no caso, eu. Tendo um clone à minha disposição, seria uma forma de dividir um pouco a sobrecarga de todas as atribuições que normalmente a vida me impõe. Claro, consciente das obrigações que me cumprem, não estou aqui querendo simplesmente me eximir delas. Apenas acho que seria uma forma de conseguir um pouco mais de descanso, e não me refiro apenas ao esgotamento físico, natural com o passar do tempo, mas talvez principalmente ao repouso e refazimento mental. Imagino que um outro eu, nas atuais circunstâncias, seria de extrema utilidade e só me traria alegrias. Principalmente se viesse com essas pequenas alterações que pretendo. Seria magnífico. Imagina, um outro eu, que seria muito mais útil e faria muito mais sucesso do que o original, modéstia a parte, já faz. Seria de extrema utilidade nos momentos, por exemplo, em que quero ficar preguiçosamente em casa à noite, simplesmente vendo TV, ouvindo música ou mesmo escrevendo. Esta cópia mais perfeita de mim mesmo sairia por mim nestas ocasiões. Poderia cumprir facilmente uma agenda social, visando claro, meus interesses, de quem mais? E nem poderiam, os mais conservadores e puristas, me acusarem de abuso de poder, ou escravidão, posto que ele mesmo seria um outro eu. E ele (ou eu) só teria vantagens. Além daquelas que já mencionei, ele aproveitaria todos os momentos de prazer que eu, por alguma razão, não estivesse disposto a desfrutar naquele momento. Ou tivesse coisa bem melhor a fazer, claro. Um clone só me traria vantagens. Além dos eventos sociais, ele poderia ir fazer um trabalho, por exemplo, enquanto eu ficasse em casa, executando outro. Poderia ir na academia por mim, num dia que eu quisesse ir à praia. Poderia ir ouvir o desabafo aquele amigo que me solicitasse algumas horas de atenção, enquanto eu ia tomar chopp com outro amigo e só falar merda, por exemplo. Claro que estes amigos não poderiam se falar depois, ou menos ainda, se telefonarem nestes momentos. Já pensou? Ambos dizendo estar comigo, em situações tão diferentes? São só vantagens. Só de pensar já torna mais firme a minha convicção de que um clone é tudo o que preciso neste momento. São muitas atribuições, solicitações e coisas que quero fazer e conquistar. E convenhamos, um outro, um pouquinho mais perfeito que eu, só teria a acrescentar nas minhas conquistas de vida.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-91335916828527302482010-09-11T00:36:00.008-03:002010-09-11T10:58:23.454-03:00Globo EsporteDe que me interessaria esta TV sem som à beira da calçada? Nada, se só o que vejo agora é a sua blusa xadrez se abrindo para as minhas mãos. Penso que você poderia baixar amanhã no hospital, tamanha a minha vontade de provar que posso deixar marcas que te levariam ao PS mais próximo, num domingo à tarde.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-42551667008501846192010-09-10T00:21:00.002-03:002010-09-10T00:28:52.648-03:00LeoLeo não consegue mudar o mundo<br />Porque o mundo não comporta a fantasia de Leo<br />Porque Leo não aprendeu a real<br />Leo pensa que o mundo é bom<br />Leo pensa que o mundo ama a gente<br /><br />Leo pinta, rabisca, desenha<br />Escreve tudo o que queria<br />que o mundo fosse<br />O mundo não conhece a alma de Leo<br />Porque Leo tem várias<br />E nenhuma delas do mundo<br />E nenhuma delas aceitáveis<br />Porque Leo não sabe viver mentindo<br />E por isso o mundo não entende Leo<br /><br />Mas Leo entende o mundo<br />E por isso é pena viver nele<br />Leo pinta, rabisca, desenha<br />Escreve o mundo azul de novo<br />Porque Leo sabe que o mundo<br />há muito tempo deixou de ser azul<br /><br />Se um dia o mundo parasse e olhasse para Leo<br />talvez o mundo mudasse<br />Então Leo não precisaria mais se esconder<br />Nem pintar, desenhar, escrever<br />Mas aí Leo deixaria de acreditar<br /><br />E se isso acontecesse<br />então coitado do mundo<br />Ele jamais conheceria a alma de Leo.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-59731425530103873432010-09-09T00:50:00.006-03:002010-09-09T12:28:59.927-03:00uma tragédia cariocaUltimamente, e isso acontece quando demoro muito a voltar, tenho tido um certo estranhamento em relação ao Rio. Nem tão aprazível assim, balneáreo onde eu naisci. Não escrevi errado não, apenas pontuo a pronúncia carioca ao verbo nasci. Aliás o medo de escrever errado também, ultimamente, tem se mostrado um martírio. Outro. Explico o estranhamento: é como aquela sensação que se tem quando observa-se grandes aviões taxiando na pista antes de voar. Os grandes, os vôos internacionais, os vôos sem volta, alguns. Porque também é normal não voltar. Tenho lido muito, tentado muito e constatado muitíssimo. Aprendi muito nos últimos meses em que não voltei ao Rio. Forço-me aqui. Forço-me no exílio e não me refiro somente ao estado de nascença, não. É um exílio por vezes muito pior e mais profundo e mais cruel do que apenas não pegar um vôo. Tem uma crônica, ou tragédia, ainda não sei, carioca, que insiste em não sair. Me pego emaranhado na história do Cosme Velho, que testemunhei a tantos anos atrás e que tento agora, reproduzir. Mas o Rio me trai de volta. Ele não perdoa a minha traição de amante sacana, que fode pra doer, porque sabe que assim o faz melhor. E que assim se faz inesquecível. Porque o que dói não se esquece, por vezes até se ama. Loucamente. O Rio não me perdoa e não me entrega de bandeja nas mãos a história que quero contar. Porque enlouquecer, ultimamente, tem sido tão prazeroso quanto elucidativo. E isso me faz melhor. Cruelmente melhor, embora não me impeça de sofrer. Pois eu prometo te enfrentar, e sim, perdoar a sua marra tão típica. Porque quem não perdoa adoece. E eu queria tanto que você me visse assim, feliz e crescido e coerente. Meu Deus, enfim coerente. Eu queria tanto que doesse em você algo escrito por mim. Tanto ou mais do que dói em mim mesmo. Eu prometo te enfrentar e declarar meu amor de amante arrependido. Eu prometo arrancar de você a história que me deve. Porque nós dois, velhos sacanas, merecemos.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-19808730153406848462010-09-08T12:04:00.000-03:002010-09-08T12:06:10.100-03:00Horror Simpático- Deste céu bizarro e nevoento,<br />Convulso como o teu destino,<br />À tua alma que pensamento<br />Desce? Responde, libertino.<br /><br />- Insaciavelmente sedento<br />Do que não vejo e não defino,<br />Reprovo a Ovídio o seu lamento<br />Quando se foi do Éden latino.<br /><br />Céus destroçados e tristonhos,<br />De vós o meu orgulho é fruto;<br />Vossas grossas nuvens de luto<br /><br />São os esquifes de meus sonhos,<br />E vosso espectro a imagem traz<br />Do Inferno que à minha alma praz. <br /><br /><span style="font-style:italic;">Charles Baudelaire</span>Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-5996700133047105352010-09-06T20:26:00.004-03:002010-09-07T04:28:19.317-03:00onde o pescoço se transforma em ombroComo se fecha-la fizesse alguma diferença, antes que pensasse, um trem bala rompeu a porta do apartamento, destruindo tudo o que encontrou pela frente. A começar com a minha resistência em aceitar o fato de estar vencido. Não que fosse exatamente um bravo lutador, mas antes o cão vira-latas que foge da briga porque se sabe mais forte. Um ético imprestável. Pra que boas maneiras com quem já se mostrou de verdade? Os sentimentos sinceros, assim como as amizades, não requerem subterfúgios. Mostram-se nus, ainda que sujos, na calçada, debaixo da chuva e desprotegidos. Porque é isso que somos todos. Desprotegidos ridículos que se vendem auto-suficientes, poderosos e por vezes inescrupolosos, na ânsia derradeira de se salvarem. Do outro. Não ganha a luta quem resiste e sim o contrário. É na fragilidade que se demonstra força. Se pareço frágil é porque tenho coragem. Agora que me falta abrigo, só me resta aceitar o cinturão de campeão deste ringue de lençóis. Nesta casa destruída pelo furacão imenso que deixei entrar, embora obstruisse todas as passagens possíveis. Embora o medo fosse o gigante invencível que dormia pesado. O medo, que me transformava no escorpião virulento que ameaçava de morte quem o tentasse. Talvez tenha usado meu veneno contra mim mesmo, como um suicida que não quer morrer, mas apenas, nem que seja por breves segundos, como um rei soberano, experimentar o salto.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-73773774524899625182010-09-05T17:08:00.003-03:002010-09-05T17:20:51.318-03:00persona non gratacom aquele medo ridículo de quem vai tuitar bêbado. ou fazer confissões por e-mail para <br />Amsterdam, às 4 da manhã. com aquela sensação de ter sido enganado pela própria mãe. com a vontade de esmurrar a mesa daquele restaurante que jamais entraria, mas que se viu forçado a elogiar. com aquela cara que se faz ao dizer "sem camisinha não rola". com o aspecto de vencido ao fazer a matrícula na academia. com o desapego de se abraçar na esquina, sabendo que se vai embora. com o cheiro de quem ficou trancado em casa o dia inteiro, sem banho. e a constatação da mais profunda e patética saudade. porque ela não deveria ter vindo. inapropriada, ela não foi convidada, nem consta da lista dos vips.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-65095959602334869742010-09-01T14:16:00.000-03:002010-09-01T14:17:18.541-03:00black or white?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TH6KjVPPLdI/AAAAAAAACAA/OLY_vi8nkfE/s1600/equality_3.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 217px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TH6KjVPPLdI/AAAAAAAACAA/OLY_vi8nkfE/s320/equality_3.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5511995333549174226" /></a>Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-5609676024366502212010-08-30T12:10:00.000-03:002010-08-30T12:11:29.279-03:00nota gastro/mentalUm copinho de Coca Cola<br />Um arrotinho<br />E tudo fica bem mais leve.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-86266071854773713142010-08-27T22:33:00.008-03:002010-08-30T18:35:30.422-03:00o cruel senhor<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/THhoE7jMDYI/AAAAAAAAB_4/TNDAH3SdqvU/s1600/boy%26hands.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 192px; height: 200px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/THhoE7jMDYI/AAAAAAAAB_4/TNDAH3SdqvU/s200/boy%26hands.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5510268578001849730" /></a><br /><br />Estive perto de minimizar o empenho de te defender, quando percebi ser eu quem mais precisava de ajuda. Perante sua grandeza de mundo de recém-nato, não poderia partir em viagem contigo, carregando todos estes anos e bagagens às costas. Não sobreviveria à primeira encosta pedregosa que tivesse que subir, puxando à força, animais, utensílios e alguns poucos órgãos que me escapassem, espalhando pela estrada os restos do homem que fui um dia. Porque agora, ao me debruçar sobre aquela encosta que dá para a longa estrada que irás ganhar, percebo ser ela a serpente gigante e víbora que irá te roubar de mim. Mas não porque se deixas, e sim por uma ordem natural das coisas. Do tempo. O que é o tempo senão o mestre caprichoso que não fornece guarida a nenhum aprendiz? O tempo, o senhor que dá e rouba. O tempo, a meretriz que ensina e abandona. Vejo meus dedos encarquilhados, tortos na fome dos anos que insistem em passar. E a vergonha me impede de estendê-los num adeus, ao menos. Não quero que os veja ao olhar para trás e deparares com o velho na encosta a despedir-se de ti. Meu pequeno amor. Meu pequeno pedaço que deixo ir. Meu fiapo de juventude que tentei aprisionar. Mas não se aprisiona os pássaros daquele senhor. O tempo. Ele se encarrega de abrir todas as gaiolas e liberta todos os seus recém-natos, antes que possamos chamá-los de filhos, irmãos, amores. Agora vejo que se vai. E percebo que sequer vai olhar para trás. Para que? Para ver-me? Não podes. Impossível. Apenas eu consigo contemplá-lo na estrada. Pois nada mais é do que o menino que eu fui um dia e deixa agora para trás o velho na encosta. Sou eu. Sou eu mesmo que vou embora, e sou eu mesmo o velho a despedir-se. Diferentes momentos do mesmo homem, que aprendeu, sob o jugo daquele cruel senhor, o tempo, que não se pode impedir o vôo dos pássaros.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-88204034609095218352010-08-25T13:48:00.005-03:002010-08-27T17:00:51.004-03:00o último dia de mar<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/THVJlU6R2qI/AAAAAAAAB_o/U6GO440A-BE/s1600/ilhadepascoa15.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 193px; height: 200px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/THVJlU6R2qI/AAAAAAAAB_o/U6GO440A-BE/s200/ilhadepascoa15.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5509390624774806178" /></a><br />Chove no meu bolso e quando tiro a flor pra te dar, sai o peixe afogado que vem dar na praia, no último dia de mar. E todas as barracas de madeira seca, dispostas enfileiradas, formando um corredor, como velhos moais olhando o mar, sem um fim para o tempo de eternidade que lhes resta. Assistiremos junto deles este último dia, este espetáculo que o fim de tudo vai nos proporcionar. A chuva que não deveria estar ali. O peixe morto pela água que o fez nascer. Os moais cansados de tanto esperar. São os indícios deste último dia de mar. Sentamos com a calma de quem já se foi e vemos o último pingo da chuva equivocada, até ser vencida pelo sol que sai de trás das nuvens e caminha pela areia, até nos alcançar na platéia, bufões ridículos que somos, no lugar errado, a assistir este espetáculo. O último. O mar enfim se retrai, secando aos nossos olhos, enquanto vemos os peixes, que saltam sedentos pelo ar, num balé de agonizantes bailarinos. Um sopro de maresia venta então sobre nós, levando os galhos secos das barracas enfileiradas, como o último suspiro deste último dia de mar. O fim é mesmo desértico? Veremos talvez, aquela Caetana andando encarquilhada pela areia? Os cabelos secos e brancos voando pela maresia, antes do silêncio final? Sim, porque após aquela última lufada, a maresia também se cala. Ela também parece cansada, assim como os moais. É com certo alívio que os vejo enfim desabar de sua postura de vigia, após o fim daquilo que não precisam mais esperar. O mar agora é seco, juntando-se numa volúpia de morte à areia sob os nossos pés. O vento cessou. O sol ganha o espaço como verdadeiro e único rei de tudo que existe e de tudo o que irá enfim, pôr fim. Sentados à beira do que um dia foi praia, temos a visão privilegiada do fim que já esperávamos. Agora entendo a flor que não saiu do meu bolso. Agora entendo o olhar de inveja dos velhos moais.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-49744722946362858022010-08-17T14:36:00.004-03:002010-08-17T21:35:23.678-03:00assassinoSem dúvida que preciso matar o minúsculo grão que ficou de você em mim. Sem dúvida, que embora minúsculo, ele cresce e sabe demais.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-38389609926277533422010-08-15T16:52:00.000-03:002010-08-15T16:53:34.141-03:00leminskiComunique-se. Não nos deixe imaginando tuas dificuldades sem ter meios de te socorrer quando preciso.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-30523219868506994982010-08-13T11:05:00.003-03:002010-08-13T17:37:26.093-03:00o caminho de sua costelaEra uma menina que se chamava Nina. Menina, mas nem por isso tão ninfa. Tão distante do nascimento que se sentia às vezes tão velha. Mas bastava uma escovada, um espelho, um batom. Saía sempre sozinha, pois talvez fosse uma espécie de sina. Tinha uma saia vermelha que a avó dera. Talvez fosse o que enfim fizesse com que olhassem pra ela. Nina tinha uma espécie de irmão, parceiro, amigo e namorado. Tudo junto assim mesmo, em qualquer esquina. Fina, lenta e branquíssima, cruzava as coxas sob a saia vermelha. Ele tocava bem devagar. Sabia que ela não gostava de exasperações. Ele tentava sempre subir, mas ela pensava no catecismo e tinha lá suas convicções. Talvez ela tivesse medo, talvez ele não fosse físico, mas um medo de alma. Pois ele sempre ficava nu diante dela com impressionante calma. Coisa que ela não tinha. Uma fraqueza de rainha, embora fosse só uma Nina. Manias tão de menina que ele tentava fazer mais madura. Mas faltava muito. Ali, no meio de todo mundo, ele tocava sua coxa bem devagar, sem se fazer exaltado diante dela. Irmão, tinha a liberdade dos que amam sem explicar. Namorado, tentava dedo após dedo, alcançar suas costelas.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-20843715913666354832010-08-10T22:34:00.005-03:002010-08-11T11:21:56.833-03:00ÍTACASe partires um dia rumo à Ítaca<br />Faz votos de que o caminho seja longo<br />repleto de aventuras, repleto de saber.<br />Nem lestrigões, nem ciclopes,<br />nem o colérico Poseidon te intimidem!<br />Eles no teu caminho jamais encontrarás<br />Se altivo for teu pensamento<br />Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar<br />Nem lestrigões, nem ciclopes<br />Nem o bravio Posidon hás de ver<br />Se tu mesmo não os levares dentro da alma<br />Se tua alma não os puser dentro de ti.<br />Faz votos de que o caminho seja longo.<br />Numerosas serão as manhãs de verão<br />Nas quais com que prazer, com que alegria<br />Tu hás de entrar pela primeira vez um porto<br />Para correr as lojas dos fenícios<br />e belas mercancias adquirir.<br />Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos<br />E perfumes sensuais de toda espécie<br />Quanto houver de aromas deleitosos.<br />A muitas cidades do Egito peregrinas<br />Para aprender, para aprender dos doutos.<br />Tem todo o tempo ítaca na mente.<br />Estás predestinado a ali chegar.<br />Mas, não apresses a viagem nunca.<br />Melhor muitos anos levares de jornada<br />E fundeares na ilha velho enfim.<br />Rico de quanto ganhaste no caminho<br />Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.<br />Uma bela viagem deu-te Ítaca.<br />Sem ela não te punhas a caminho.<br />Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.<br />Ítaca não te iludiu<br />Se a achas pobre.<br />Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.<br />E, agora, sabes o que significam Ítacas.<br /><br /><span style="font-style:italic;">Constantino Kabvafis</span>Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-18750541386727351422010-08-04T11:41:00.005-03:002010-08-09T10:41:25.666-03:00o profeta<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TFl-u40tHSI/AAAAAAAAB_g/UvIPOLFml9g/s1600/Tahar+Rahim+-+Um+Profeta+-+Un+Prophete2.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_ENQeIyLFgA4/TFl-u40tHSI/AAAAAAAAB_g/UvIPOLFml9g/s200/Tahar+Rahim+-+Um+Profeta+-+Un+Prophete2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5501567763802299682" /></a><br />Em 2005 o diretor Jacques Audiard realizou o filme De Tanto Bater Meu Coração Parou, que contava a história de um rapaz de 28 anos em um momento divisor de águas: seguir o caminho corrupto do pai, ou o lado virtuoso da mãe, pianista. Na maior parte do filme, vê-se este protagonista numa luta constante entre livrar-se da influência negativa do pai e entregar-se ao talento herdado da mãe. É um filme de violência plástica, cenas luminosas e música clássica, numa Paris colorida e musical. Corta para o rosto de César Luciani (Niels Arestrup), espumando o seu ódio diante de Malik El Djebana (Tahar Rahim), o jovem árabe que ele toma como seu protegido e ascecla. Niels Arestrup é o mesmo pai de De Tanto Bater, aqui num desenho magistral do mafioso e líder corsa, César Luciani. Malik é preso condenado à seis anos, em circunstâncias não muito explicadas. Sem “origem”, sem parentes, nem passado, é jogado numa cadeia dividida entre as facções dos árabes “sujos” e dos ítalo-franceses, liderados por Luciani. Talvez necessite assistir novamente à O Profeta. Não é um filme de fácil aceitação e muito menos digestão. É um filme sem heróis, ou antes, de muitos heróis. O fato é que, levados pela direção de Jacques Audiard, não conseguimos uma empatia com seu protagonista e principal “herói” desta jornada. Talvez eu tenha pecado em, na falta deste herói, ter-me detido à interpretação do incrível Niels Arestrup. É o tipo de composição de personagem em que quase pode-se sentir o cheiro de sua persona, tamanha é a veracidade que o ator consegue nestes casos. E sem dúvida, o cínico mafioso é um legítimo representante desta classe. Mas voltando ao protagonista anti-herói Malik, assistimos sua escalada dentro de uma organização (a ítalo-francesa), sem esquecer sua origem árabe. Aprendendo com seu protetor e master bandidão César Luciani, o jovem Malik rapidamente absorve o cinismo como única forma de sobreviver entre os dois mundos, e o pior, dentro de um espaço exíguo que é a prisão. Talvez não torçamos prontamente por Malik. Seu desenho e direção é composto justamente pra isso. Mérito de direção e roteiro. Mas aos poucos assistimos seu desfile fluídico entre aquelas paredes e aqueles homens já condenados por si próprios, como uma espécie de mérito alcançado por seu próprio esforço. Talvez Malik seja o único ali dentro que, apesar das circunstâncias, não se deixa entregar à sua condenação íntima, e em nenhum momento ele esmorece ou se considera sem salvação. Para sobreviver ele será capaz de tudo, matar sim, morrer jamais. Quero destacar a ambientação da prisão, que nos remete aos filmes de gângsters tão comum aos americanos, nos anos 70. Sem a sua plasticidade ascéptica, o que convenhamos, é muito mais interessante e próximo ao real, e em O Profeta, de suma importância para coerência da sua trama e tipos. E a já famosa “cena da gilette”, que antes mesmo de acontecer propriamente, nos oprime nos simples ensaios em que ela se prepara. Sem obviamente entregar a trama, destaco o talento do cinema europeu no que diz respeito às cenas de mortes violentas, mais uma vez se sobrepondo aos californianos. A morte violenta não é um balé a ser coreografado. Não tem que ser bela e sim coerente com a história e pano de fundo na qual são contadas. E nisso também o cinema francês se sobrepõe ao americano. Vide outra cena de morte, no filme Caché: surpreendente, chocante, verdadeira. Mas Jacques Audiard não quer chocar com o seu Profeta. Antes, prefere a discussão que o seu múltiplo personagem central nos oferece. Por isso assistí-lo mais de uma vez, para talvez decifrá-lo. Talvez, o que pode na realidade, jamais acontecer.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-29647438113335480322010-08-03T00:50:00.002-03:002010-08-03T00:57:27.226-03:00confirmando paraty"Vem dos caminhos do mar<br />Vem navegando cansado<br />Meu barco azul enfeitado<br />De bandeirinhas e luz<br />Só pra que, só porque<br />O carnaval na rua vai chegar<br />E o nosso bloco abre alas pra passar<br />Agora é vida, agora é sonho<br />O carnaval esta na rua<br />O passado pouco interessa<br />Abre a janela, vem ver a lua<br />Vem ver estrelas e a madrugada<br />A aurora é linda em Paraty<br />Agora é vida, tristezas não<br />Tira a saudade do coração�"<br /><span style="font-style:italic;"><br />Zé Kleber</span>Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-27986872278909373292010-07-31T20:30:00.002-03:002010-07-31T20:43:07.411-03:00voar ou morrerQuero te tirar daquele cercado de roça, daquele refúgio de amor que te quiseram manter. Nada mais é do que o quarto trancado do pássaro menino que não pode voar. Quero abrir o portão de madeira velho e afagar o cão que vais deixar à sua espera, órfão do seu carinho de prisioneiro. Mas corre, atravessa os limites da prisão da qual eu vim te libertar. Quero que entendas, antes de escapar, que não é a vã liberdade que te ofereço, mas o escape da prisão de amor que o fizeram condenar. Agora olha para trás uma última vez. Vê o velho portão. Vê o velho cão. Vê o pai e a mãe, que te fizeram infeliz por tanto te amarem. O medo que terás agora só não é maior que o medo que te mantinha aprisionado. Quero que ganhes o mundo, como o filhote que se atira no espaço sem muitas escolhas. É voar ou morrer. Quero que ganhes a vida por tuas próprias asas. Quero que voe livre sem lembrar do que ficou para trás. Mas espero que lembres, que também se sofre e se pena nas mãos daqueles que nos dizem amar.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-58842492542893440882010-07-30T21:29:00.001-03:002010-07-30T21:32:32.603-03:00mini drama IVNo quarto:<br />– Me corta com este bisturi.<br />– Não tenho coragem.<br />– Corta!<br />– Você é louco.<br />– Corta, você já foi tão mais fundo que isso.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5894105986421167510.post-52872064271495634152010-07-30T21:28:00.001-03:002010-07-31T12:21:17.872-03:00mini drama III– Tô sem grana...<br />– Procure emoções baratas.Heitor Nuneshttp://www.blogger.com/profile/10855704386041244051noreply@blogger.com0