O roteiro de O Segredo, escrito pelo diretor Juan José Campanella e Eduardo Sacheri a partir do livro deste último gira em torno de Benjamín Esposito, um oficial de justiça aposentado que decide escrever um romance baseado em um caso ocorrido há 25 anos. O caso fora um estupro seguido de morte de uma jovem professora na Buenos Aires dos anos 70. Este espaço de tempo é o suficiente para que se tenha clara a idéia do que foi e do que se tornou a vida de Benjamín, apaixonado pela sua promotora Irene. Mais do que a direção de Campanella, o trabalho dos magníficos atores centrais Ricardo Darín, Soledad Villamil e Guillermo Francella, quero destacar o que realmente me impressionou. O roteiro. Numa ida e vinda no tempo montada de maneira tão fluida, pelo próprio diretor, que quase não se percebe a passagem de tempo, ou melhor, percebe-se mas com uma sutileza tão grande, que este tempo parece único. No meu entender, uma mensagem oculta, a de que para o protagonista, o tempo não passou. Claro que não cronologicamente falando, mas simbolicamente, uma vez que Benjamín teve sua vida “congelada”, tanto pelo crime (que conseguiu desvendar, porém sem punir), quanto pela paixão nutrida durante toda a vida pela sua superior. Talvez eu tenha cometido “o erro” de assistir ao filme de maneira muito analítica, o que me levou a considerar o roteiro a coisa mais relevante da obra. De qualquer forma é o roteiro mais sutil e inteligente que vi nos últimos tempos. Onde o que parece ser a maior trama da história, revela-se secundário. Assim como o que não se supunha revela-se a grande descoberta. Detalhes tão sensíveis como o porta-retratos virado para baixo, no móvel na casa de Benjamín, as cortinas sendo fechadas pelo viúvo da assassinada, quando este recebe a visita do oficial aposentado, ou a letra A emperrada da máquina de escrever. Detalhes que talvez passem despercebidos, mas que na conclusão da história, vê-se a intenção do inteligentíssimo Campanella. E tente não prender a respiração na sequência dos quinze minutos finais. Assisti a O Segredo na véspera da cerimônia do Oscar e lembro de ter expressado que ele merecia muito mais que a estatueta dourada. De fato, a obra de Juan José Campanella é para entrar para a história do cinema. E não só do argentino. Recomendadíssimo.