A água é a causa material de todas as coisas


Para o filósofo grego Tales de Mileto, a água é a substância única de todas as coisas. Segundo Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem à terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo de movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser resumida nas seguintes proposições: A terra flutua sobre a água; A água é a causa material de todas as coisas. Todas as coisas estão cheias de deuses. Ou Deus, para os crentes. Mas o mais importante que quero destacar, é isto: A água é a causa material de todas as coisas.

Água, lágrimas e suor. No difícil 2008 houve muita água feita em lágrimas. Tantas, que prefiro esquecer. No luminoso 2009 houve muito suor, coisa que sempre gostei. Para mim, o suor, feito água, é vida. É extensão e resultado de força, de esforço e de luta. Em 2009 houve muito suor, até numa forma de superar as águas do ano anterior, e isso foi bom. Isso foi muito bom. Nascido e criado perto de tanta água, de mar, de rios, de cachoeiras, a água sempre foi considerada por mim, uma espécie de templo. Uma espécie de deus ou deusa, como acreditava Tales. Sendo assim, algo a quem eu sempre fiz reverência. Algo a que sempre idolatrei. Mais um motivo para tanto valor ao tanto de suor que verti neste ano que acaba. O chamei de luminoso porque ele foi o início de um montão de coisas que prometem outras tantas coisas incríveis, claro, em 2010. Mas só porque SE SUA. Só porque SE LUTA. Peace.

Homem ao mar!!!

Dicen que la distancia es el olvido

Sério mesmo, que o que senti era uma projeção daquilo que só eu queria e que só eu via? Quem te disse essa bobagem? A terapeuta? A caixa da padaria? Ahhh, quem poderia saber? Nenhum de nós, talvez. Nem mesmo você, tão longe, tão feliz?! Nem mesmo o Dalai Lama, pois este, cá entre nós, acho que nunca sentiu. Nem mesmo você, tão incrível, tão assassino. De qualquer forma, dicen que la distancia es el olvido. Sendo assim, então deve estar perto de passar. De cessar, gostei de usar esta palavra este ano. Soa-me bem, como taínha, sabe, o peixe?!

É Natal

Time To Pretend

Em toda cidade passa um rio

Às vezes mais de um. Eu não devia ter feito isto. Fantasiar por minha conta e risco quem passa por ele. Seja de barco, canoa ou afogado. Não tive a necessária sensibilidade para distinguir que quem vive, bóia de peito pra cima. O afogado, bóia com a cara pro fundo. Eu não devia ter feito isto.

Bastardos


– Eu não vi, minhas filhas não viram. Mas a despeito de todas as opiniões conflitantes sobre este filme, preciso dizer que este pôster... me pegou. Sensacional!!

Olha só

quanta coisa impensada de se pensar naquele horário comercial mais longo do ano. Esperando a hora do estacionamento vazio. POC POC POC. Os canhões acendendo um a um. Onde não haverá voz, som, ou passos chegando de leve, pondo a mão no meu ombro e dizendo, vamos?

Para Pablo

Oportuno

Li outro dia, mais ou menos assim, que é insano viajarmos na insanidade dos outros. Acho mais insano embarcamos na nossa própria insanidade. Da nossa é que devemos ter medo. Porque o outro, nem sabemos se é ou o quanto é louco mesmo. Mas de nós, creio que devemos ter noção das nossas loucuras. Pense no quanto de nós não deveria estar proibido de conviver em sociedade. É louco isso. O que podemos criar no meio desta viagem é de botar medo no agiota mais escroto do centro da cidade. Cabe nesta viagem, bem oportuna por sinal, as palavras de Volta-Seca. Não sabe quem é? Googla!! Peace...

Se eu soubesse que chorando empato tua viagem, meus olhos eram dois rios que não te davam passagem.

Camafeu

Soprou a fumaça longe, longamente para o céu e o coração doía. Por trás dos óculos conseguia olhar direto no sol. Cego não se importava se ficasse. Tanto melhor. Mas sentiria ainda assim. No próximo encontro lembraria de pedir que lhe arrancasse os olhos. Pediria que usasse para isso aquele antigo camafeu que pertencera a sua avó.

Sexta-feira em SP


– Eu vou neste negócio. Bora???

O tiro não dói só em quem recebe

O crime que vitimou o dramaturgo Mário Bortolotto no último fim de semana em São Paulo, de certa forma atingiu a todos nós. Seja você próximo dele ou não. Amigo, admirador, ou não. É a violência que já chegou na nossa porta há muito tempo. E ela está nos intimidando. E isso é tão fatal para nós quanto os tiros que "estamos levando".

Torço fortemente pelo Mário. Pelo artista que é, pelo ser humano que é, como qualquer outro. Ele sai dessa, com certeza. Esta triste história me lembrou uma semelhante, ocorrida com um amigo, que me levou na época, a escrever o que você lê abaixo. Peace:


À queima-roupa

Foram dois tiros pelas costas. Mas não sentiu dor, apenas um susto quando as balas estilhaçaram o vidro de trás do carro. Não sentiu dor, mas uma ardência que ele pensou serem os cacos de vidro espetando suas costas. Ele viu os caras se aproximando pela traseira do carro e viu, de relance, as armas. Foi tudo rápido, um reflexo. Não houve voz, não ouve comando, não deu tempo a eles. Pisou fundo no acelerador. Os pneus cantaram e uma fumaça preta subiu o cheiro de queimado da borracha. Não pensou em nada, queria fugir dali. Nada à sua frente. Branco. Vermelho. Queimado. Vidro. Foram dois tiros pelas costas. Não houve dor. Uma ardência leve no braço direito que recebeu uma bala de raspão. Uma ardência mais forte perto da nuca que recebeu uma bala em cheio. Ele viu o vidro da frente se quebrando. Ouviu o barulho da clavícula se partindo. Era a bala que saía pelo pescoço. Não houve dor. Ouviu gritos, buzinas, sirenes, branco, vermelho. Como é seu nome? Não lembrava, não conseguia. Não sentia dor, apenas cansaço, queria fechar os olhos. Dormir. Não conseguia, os olhos abertos o tempo inteiro. Queria enxergar, queria entender, queria lembrar. Deitou-se, era macio, branco, vermelho. Respirou fundo e conseguiu fechar os olhos. Lembrou-se dela. Sentiu uma dor insuportável. Profunda. Suor, roupas rasgadas, vermelho. A dor o fêz gemer. Sentiu uma mão tocando sua testa, seus cabelos, seu suor. Abriu os olhos e a viu chorando. Sorriu. A dor aumentou desesperadoramente. Olhou nos olhos dela e finalmente chorou.

Outro coração

Entre todas aquelas lamentações que corriam pela cidade iluminada colorida, procurei não dizer muito. Quis dizer nada. Mas aí era muito pra que eu conseguisse. Disse pouco. Quase nada. Não queria aumentar a fila. Quis dizer em silêncio. Quis pedir em silêncio. Porque tenho gritado demais, sem resultado. Como um menino em dia de prova, conclui ao sair de casa. Para que você ouvisse seria preciso que nascesse de novo e tivesse aí outro coração batendo. Que não o seu.

Começa


Traz pra mim o café na cama. Não precisa suco. Um café preto tá de bom tamanho. Eu quero ficar pensando um pouco mais em tudo o que não tem deixado em paz minha cabeça, já sem muito cabelo. Mas nenhum branco, por enquanto. E lembro de minha irmã perguntando se eu pintava o cavanhaque. Nossa, mas parece tão preto. – Ela admirava. Por enquanto ainda não pinto, não. Nem pretendo nunca fazê-lo. Tem momentos, como estes de agora, que tudo que quero é pensar menos. Ficar na cama, não exatamente vegetando, mas descansando a cabeça de tantos pensamentos, tantos deles absurdos. Então eu prefiro um café preto puro. Compro aqueles aromáticos e misturo com o pó de café comum, bem mais barato. Mas o sabor, o cheiro do outro mais especial fazem toda a diferença. E eu fico um pouco mais na cama depois de acordar. Ouvindo música no tocador e tomando café preto e uma réstia de sol fraco entra pelos furos da veneziana da janela e o dia promete ser quente, embora não prometa muito sol. Mas a gente sempre quer mais calor, mais luz, mais gente na rua, gente na calçada, gente na padaria, gente nas lojas mais caras da cidade, que francamente, eu tô cagando. Começa o dia mais ou menos em paz. E tenho precisado tanto de paz. E ela tem fugido de mim como uma virgenzinha escrota pudica safada hipócrita. Assim como as velhinhas nos taxis em dias de chuva. Mais um tempo na cama antes de levantar, ouvindo baixinho as músicas mais tristes, que são as que eu mais gosto. Não é de agora, não. Sempre foi assim. Mesmo nas épocas mais felizes e de mais paz. Sempre foi assim. Então talvez se eu pensasse menos. Se eu ouvir mais as músicas tristes e ficar um pouco mais na cama, olhando o brilho do sol entrando pelas frestas, então é um começo de paz que vem despontando e eu ameaço um sorriso pequeno que abre gigante depois que o telefone toca. E eu ouço aquela voz que ouvi a dias atrás e ela é nova. É cheia de alegria e vida e só de ouvir, mesmo sem ver, eu sei que ela fala sorrindo. Eu posso até ver, mesmo de olhos fechados, ouvindo aquelas músicas tristes que eu tanto gosto. É mesmo aquela conversa tonta, cambaleante, de quem não se conhece direito, mas que quer tanto, espera tanto. E ainda de olhos fechados, percebo que o sol agora explode pelas pequenas frestas da janela e parece querer entrar a força no quarto, como uma bomba atômica numa contração de parto, querendo dar à luz uma criança cheia de vida e alegria e aquele sorriso que toma toda a voz. A voz que ouço agora, de olhos fechados, ao telefone, que tocou justo no momento da música mais triste, da melodia mais cortante e dolorida. Porque já doeu muito. E eu já chorei muito. Ainda não secou, mas eu chorei muito. Mas agora eu quero a explosão daquele sol entrando pela janela. Quero a bomba atômica parindo. Quero aquela voz cheia de sorrisos. Quero aquele perfume novo, que eu seria capaz de reconhecer a quilômetros de distância. Eu quero o dia cheio de luz e de gente e de calçadas e de cachorros e de castanho claro. Da cor dos seus cabelos. Eu quero tudo isso que as músicas tristes me dão, pois me treinaram bem, enquanto eu chorava e esperava. Eu quero tudo isso agora. Não amanhã e nem depois. Eu quero agora. Começa.

Ainda não sabia

Enquanto esperava pacientemente por um movimento seu, passava lentamente por trás e respirava fundo o perfume que ainda subia pela sua nuca. Que me golpeava forte o lado direito do cérebro. Ou sería do peito, ainda não sabia. Mas tinha a espera. Tinha o aperto de mão que não quer soltar. Tinha as costas e a nuca. O perfume que subia ainda no fim da tarde. Talvez porque eu sentisse muito. Quisesse muito. Mas não soubesse nada. Então como se fosse possível prender a respiração e ao mesmo tempo gritar. Gritei. Mas foi tão surdo que ninguém ouviu. Ele morreu na garganta. E nem eu mesmo ouvi. Porque eu ainda não sabia.

Next door

Pára de pensar. Não olhe pro lado. Isto te faz apertar o cadarço do tênis quinhentas vezes ao dia. E nunca é o suficiente. E ainda corre o risco de gangrenar. Aí você não vai poder correr. Não com o pé machucado. E você vai precisar. Mas não com o tênis apertado de tanto que você põe força onde não devia. E suavidade onde menos. Preste atenção e consiga você mesmo as respostas que não te deixam dormir. Ou acordar com aquele primeiro pensamento do dia. Pára de pensar. Respira. Conta até quinhentos. E principalmente, não olhe pro lado.

Dia Mundial de Luta