Ele contava tantas histórias. Meio como aquele pai do filme Peixe Grande e suas Histórias. A maioria mentiras. Ou verdades fantasiadas, sei lá. Mas vejo assim hoje, que estou mais velho. E mais chato, coisa que ele nunca foi. Quando eu era moleque e achava que ele era chato (e jogava isso na sua cara), na verdade eu não entendia onde ele queria chegar. E era sempre em mim. Ele sempre quis chegar em mim, mas eu não deixava. Tinha minhas razões. Mas hoje, analisando com distância, penso que ele entendia. E talvez por isso mesmo tentasse chegar. Mas talvez não soubesse como. E talvez eu não quizesse mesmo. Não me arrependo. Pensava assim naquela época, era o que tinha de ser. Hoje, com certeza agiria diferente. Com toda certeza deixaria ele chegar. Ele dizia que nascera debaixo de uma mangueira gigantesca, secular. Passávamos sempre por ela, na beira da estrada. Gigante, antiga, uma sombra enorme. Talvez ele não tivesse realmente nascido debaixo de sua copa. Mas seus pais moravam perto, eram empregados da fazenda que abrigava (e ainda abriga) a tal mangueira. Não importa. Hoje vejo que o que importa era o que ele queria dizer com isso, com todas as histórias que me contava. Mentiras ou meia-verdades, não importa. Hoje sei que as histórias eram só para mim. Ele nunca me contou histórias pra dormir, mas sempre pra que eu acordasse. Hoje meu pai faria aniversário.
13.4.10
que coisa mais linda, Heitor!
13.4.10
Saudades... De vocês dois.
20.4.10
puxa... tava aqui pensando: que sorte ter alguem que nos conta historias pra acordar. alias, belissimo jogo de palavras. S2