O canto


Esperei aqui, deitado, porque sabia que talvez demorasse. Esperei, enquanto ouvia, longe, uma voz que a princípio parecia imcompreensível, mas que com o passar do tempo, e da longitude, revelou-se um canto. É, um canto. Um canto baixo, vindo de uma voz que parecía saída da mais profunda gruta, do mais profundo possível daquele oceano que um dia deixei pra trás, antes que o sol descesse por completo. O mesmo oceano que era pra mim a mais completa e perfeita sensação de prazer, alívio e felicidade. Esse canto, nascia de lá. Eu reconheceria sua origem em qualquer circunstância. Era a tradução exata daquele encontro raro do oceano com a montanha. E da visão perfeita deste encontro, que só se tem, quando se está mergulhado naquelas águas. Onde parece que o som deste canto, sobe pelas suas pernas, mergulhadas no salgado deste oceano, enquanto você vislumbra o encontro do azul mais profundo possível, com o verde mais tenebroso e cheio de vida das montanhas à sua frente. E agora, depois de toda espera, depois de toda lembrança deste oceano, deste encontro, aquele canto retorna aos meus ouvidos. E nesse instante eu tenho a mesma sensação de quando mergulhado. Ouço. Vejo. Assisto. E agora, como naquele momento de antes, eu penso que poderia morrer. Poderia até morrer, pois seria num momento de inesquecível, indescritível e inigualável, felicidade.

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