Mãos


Já bebi todo o vinho branco que tinha na geladeira. Fiquei tonto. Mas ainda não caí. Se eu cair, não se preocupe, eu levanto sozinho. Não preciso da sua mão. Ela está limpa demais para me ajudar. Deixe que eu levanto sozinho. Me amparo pelas paredes. Pelos muros. Pelos vidros trincados. Pelos cacos que ficaram no chão. É provável que eu me corte. Mas não me importo. Ainda assim é melhor que me render às suas mãos. Não as ofereça pra mim. Elas são tão finas, assépticas, em nada podem me ajudar. Não há nelas nenhuma mancha. Nenhuma marca. Nenhum ferimento. São mãos virgens, as suas. Nunca sofreram. Nunca esmigalharam entre seus dedos um coração que pertencesse somente a elas. Não. Elas não. Não têm a força das mãos ímpias e calejadas e feridas por cavarem com as próprias unhas, a terra desesperada que alimenta os vermes. Não as suas. De vermes, elas não entendem. Só de rosas. De pétalas e de céus. Como são limpas as suas mãos. Elas não podem me ajudar. São puras. Elas não têm a força moribunda dos derrotados. Dos vencidos. Dos caídos. Mas eu ainda não caí. Mas quando o fizer, não contarei com as suas mãos. Elas nada podem contra mim.

4 Response to "Mãos"

  1. Anônimo Says:

    Pessoas assépticas em nada acrescentam, por isso é melhor mantê-las afastadas, mesmo.

  2. Anônimo Says:

    Acredite, por mais que você não queira, as mãos sempre estarão lá!

  3. MBThais Says:

    foda o texto, é seu msm?

  4. Heitor Nunes Says:

    sim, é meu mesmo!! ;))