Despedir-se


Cheguei a conclusão que despedir-se, ir embora ou deixar que outro vá, também é uma arte. E de difícil execução. Ultimamente venho, infelizmente, constatando isso na própria pele. Ontem conversava com um velho amigo que depois de alguns anos vivendo no Rio, volta agora para o Nordeste, sua terra natal. Era uma difícil decisão, ele explicava. Difícil, apesar de ter sido desejada e planejada. Sempre é difícil deixar pra trás coisas, lugares, pessoas a quem nos apegamos. É o preço que se paga pelo afeto? Talvez. É inevitável, inerente à vida. Talvez o exercício do desapego, que apregoam todos os conceitos e filosofias espiritualistas, auxiliem neste processo. Mas é difícil, é doloroso. Despedir-se de um lugar, de alguém que se ama, ir embora, deixar de ver, remete a uma finitude, a extinção de um sentimento ou uma felicidade que não se quer perder. Ninguém quer perder aquilo que ama. Tenho uma formação espiritualista, que sempre me fez entender que o fim, como um conceito definitivo e inevitável, este fim, implacável, em realidade não existe. As coisas apenas se transformam, ou mudam de lugar. Evoluem, finalmente. Mas não quero entrar neste mérito aqui. Queria sim, talvez, aliviar um pouco o aperto no peito do meu amigo que agora se despede da Cidade Maravilhosa. Gud, meu velho, não fique triste pelas pessoas, coisas, lugares, calçadas, brisas, nights, que você vai deixar pra trás. Nem pela vista espetacular que você tem da sua sala, e eu morria de inveja. Fique feliz. Feliz pela nova etapa de vida. Feliz pela oportunidade de estar vivo, sendo feliz e fazendo feliz àqueles que estão a sua volta. Fique feliz, meu velho. Fique feliz pela chance que você tem. Fique feliz pois você ainda pode. Abra bem os olhos e o coração pra todas as paisagens que você conhece tão bem e vai ver novamente agora, durante muito tempo. Despedir-se sempre dói. Mas a gente deve acreditar que nada é definitivo. Nem mesmo a dor. Nem mesmo o adeus.
Abraço, velho!

1 Response to "Despedir-se"

  1. Flávia Stefani Says:

    Respondi seu comentário em meu blog. E sobre esse texto, é incrível você ter escrito com tanta propriedade sobre uma situação que muito provavelmente viverei: mudar de Nova Iorque (E tou achando que volto pra São Paulo). Precisarei muito de pontos de vista como esse seu. Que bom ter dado um pulinho aqui hoje.