Tapete preto


Quem sabe hoje eu durmo cedo e sonho. Sonho que ando a 120 km por hora, sobre o tapete preto com faixas amarelas. Aquela estrada deserta que só tem a mim esta noite. Eu vôo sobre o tapete preto. Com os vidros abertos, deixando o frio úmido entrar no carro. Vôo, cada vez mais rápido, cada vez mais longe. Pra não olhar pra trás. Pra não pensar no que ficou. As faixas amarelas correm como doidas pra baixo do carro. Uma, e outra, e outra, e outra. Rápidas, entrando nas garras de ferro enferrujado do velho carro. Não sei porque tenho tanta pressa esta noite, uma vez que eu tô sonhando. Mas eu logo esqueço. Corro. Quase vôo. Uma fina garoa cai agora sobre o parabrisa e as faixas amarelas começam a ficar embaçadas. Mas elas estão lá. Intermináveis. Uma a uma, me fazendo ver o quanto eu sigo rápido pela estrada preta e deserta. No frio úmido da madrugada que entra no carro, com as janelas escancaradas. Soltei a direção. Abri a porta e ponho meio corpo pra fora. E grito. Grito na estrada preta, molhada pela fina garoa. Grito seu nome. Subo pelo capô do carro e sento no teto, com os pés no parabrisa. Grito seu nome com o vento gelado queimando minha cara. Abro os olhos e o carro pára em frente ao seu portão. Você já esperava, eu não. Acordei.

1 Response to "Tapete preto"

  1. Anônimo Says:

    bom comeco