Aos poucos ela sentia que o cheiro de lixo aumentava, a medida que avançava pelo corredor, iluminado apenas pela pouca luz que entrava pelos vasculhantes abertos. O abafado daquele lugar aumentava ainda mais a sensação de desconforto que faziam suas pernas vacilarem. Ir em frente, ou não? Tinha medo, mas tinha muita vontade, e esse mistura a fazia hesitar. Mas não voltava atrás. Prosseguia pelo corredor escuro e fétido. Procurava o 22. Quase na metade do longo corredor, tinha um moleque de uns 10 anos. Fumava um. Deu um sorrisinho, olhando ela passar. Mas ela não olhou pra ele. Procurava o 22. Procurava algo na bolsa, quando uma porta se abriu à sua frente. Com metade do corpo pra fora, ela pôde vê-lo. Ele sorriu. Ela não.
– Foi difícil de encontrar?
– Não pensei que fosse assim. Ela respondeu, olhando em volta.
– O encontro?
– O lugar onde vive.
Ela já ia entrar, quando o moleque de 10 anos passou correndo entre os dois, em direção ao fim do corredor.
– Ô, moleque folgado! Entra, vai. Desculpa...

Ela observou de cara um papel de parede de flores verdes, envelhecido e quase todo coberto de mofo. Ainda passou as pontas dos dedos pelas flores desbotadas, tentando sentir alguma textura. Tentando sentir. Ele retirava uma colcha xadrez que cobría a janela. A corda da veneziana original tava arrebentada, ela percebeu.
– Deixa, deixa assim. Ela pediu.
– Queria te ver melhor.
– Você já me viu muito.

Ela podia entender agora porque ele nunca concordara que os encontros fossem onde morava. Talvez por vergonha. Talvez...

– Não acho que é um lugar pra você vir e sentar, se acomodar. Aqui eu vivo de improviso.
– Isso não importa.

Ela não sentou. Tirou a roupa e chegou em frente a ele, abrindo seu zíper. Apertou com força seu pau e ele quase reclamou. Mas ela enfiou rápida a língua na sua boca, percorrendo seus dentes, enquanto ele gemia, baixinho. Com os olhos fechados e invadindo toda a sua boca, ela podia se lembrar de quando o conhecera, logo assim que se casara. E já faziam quase dois anos. Ela não sabia como acabar com aquela história. Ela não queria sair daquilo. E ela precisava sair. E ela o odiava cada dia mais por isso. E ela o desejava cada vez mais por isso.
Quatro horas depois, prostrados no colchão, sem forças, respiravam sofregamente, enquanto ouviam longe, as vozes das crianças brincando lá fora. Tava mais escuro agora. Ela se virou de lado e percebeu que ele dormia. Vestiu toda a roupa. Pegou sua bolsa e se aproximou da porta. Tirou da bolsa uma Magnum 357, que seu marido lhe dera. Olhou pro seu rosto, dormindo em paz e disferiu três tiros no seu peito. Saiu, tranqüila pelo corredor, que ainda fedia. Ela não sabia como acabar com aquilo.

2 Response to " "

  1. Anônimo Says:

    Olha eu moro no 22, mas ele é ajeitadinho, viu? É casa de pobre, mas tem cheirinho bom, viu?

    Estávamos fatalistas hj, hein?

    E não estávamos muito de bem com a norma culta da gramática, né? rs Sei sei.

    De qq forma, eu gostei.
    Bjo,
    Claesen.

  2. Heitor Nunes Says:

    tks, tks, já corrigi!! :))