2008 motivos


Tenho a nítida impressão que todo o ano de 2008 foi um período daqueles que te afetam de tal forma que a partir dali você nunca mais será o mesmo. Fatos e pessoas tão importantes e reveladores que viraram a minha mesa sem pedir permissão. Justo quando eu tava bem confortável, tigela de Sucrilhos com leite à frente e com alguns bons planos. Alguns foram por água abaixo, me deixando de colher na mão, chorando sobre o Sucrilhos derramado. Algumas pessoas chegaram, outras se foram e 2008 pareceu a mim uma grande estação de trem, onde nem correndo como costumava correr, me permitiu despedir-me destas pessoas. Mas, estava ali, ofegante, esperando as que chegaram. E elas eram tão importantes quanto as que se foram. No trenzinho preto, virando a curva, lá longe, soltando seu último apito. Pelo menos, o último que eu pude ouvir. Nada mais me restou que soltar algumas lágrimas e tentar ensaiar um sorriso amarelo pra grande máquina que acabava de chegar na estação, trazendo os novos viajantes. A carne tava viva e eles me ajudaram a voltar pra casa um pouco mais aliviado, pois eu correra muito, muito, tentando chegar a tempo de me despedir dos outros. Os que se foram. Os que me acompanhavam agora tinham o cuidado de não me tocar, pois qualquer aproximação mais física faria doer a carne, tão viva. Mas eles me ajudaram muito. Me acompanharam e estão do meu lado até agora, quando enfim os revelo. Os fatos e as pessoas ficarão para sempre, inclusive os que se foram. As pessoas, assim como os fatos são eternos. Você os carrrega, para além da estação, não importa que viagem você faça, eles ficarão para sempre impressos na carne viva. E esta, um dia sara, pois é feita de nervos e ligamentos. Mas os impressos a transpõe, alcançando a alma e ficam lá, unidos a ela, numa estranha simbiose. E você os carrega aí sim, eternamente, pois a alma diferente da carne, não morre nunca.

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