Foi só enquanto trocava os cream-crackers de zip-loc, que ele lembrou, que ela avisara num sms: Volto só na primavera. Naquela noite que ventava quente, ele adoraria um sorvete, fosse de qualquer sabor, e pensou: Não deve ter sabor algum, a primavera em Toronto.
No domingo na cidade, pelo reflexo dos seus óculos escuros, ele via os prédios ardendo em riste, em direção ao céu. De um azul tão claro, que quase branco, cegava os incautos que saiam de casa, aquela hora da manhã, sem os óculos escuros. Quanto mais ela sorria por debaixo daqueles óculos, maior ficavam os prédios na frente dela, por trás dele. Não a tocava, pois sabia. Não lamentava, porque ela sorria. E isso demolia todas as leis do mundo, naquele domingo na cidade.
Como posso esperar que me veja onde eu sequer pretendo passar? Como posso querer ouvir o que você nem saberia conjugar? Há distâncias tão imensas, como um simples atravessar da rua, como te ajudar com os pacotes da padaria, ou com a pintura daquela sua parede que você pretende azul. Onde um simples atravessar da rua torna-se uma viagem interplanetária.
Na pré-balada, na calçada, onde a moça chega sozinha e todas as outras olham, mas chegaram acompanhadas e tão mais sozinhas, e a mesma moça que não ajeita o sutiã e olha o cara de camiseta preta, encostado na parede, na calçada, com aquela moça que nem tá com ele, mas que percebe a moça que chegou e que olha. Mas a moça tem princípios, não apenas solidão e apenas olha, então. Ela aprendeu um dia a respeitar, os outros mas a si mesma antes de tudo. E não vai ajeitar o sutiã ali, na frente de todo mundo, na calçada, pré-balada. E os meninos chegam, 2, 3, 4, 8. E todo mundo vê todo mundo. E todo mundo tão alheio, nem aí, mas todos querendo tanto e precisando tanto, mas tão alheios todos que ninguém percebe que ninguém e aí todos continuam tão alheios e tão querendo, todos. Igualmente a moça que chegou sozinha e olha, e sabe que precisa ajeitar o sutiã, mas ela tem princípios e os meninos todos em volta, rondando, acabando de chegar e um entre eles reconhece um amigo de outras datas, outras calçadas, e olha o boyzinho, que agora é de programa, porque cansou de não ter grana, mas ele tem princípios, e não vai cobrar do amigo, que é de outro tempo, quando ainda tinha esperança, além de princípios. E eles conversam e olham pra moça, e chega aí, vamos conversar. Todos tão alheios, nem aí, mas querendo tanto, precisando tanto.
Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas. Dizem também que o mundo dá voltas. O que dizer então sobre as voltas que o mundo dá, trazendo de volta coisas e pessoas e momentos tão bons que dão tanto alívio, depois de tantos caminhos mais tortos que as próprias linhas? Expresso aqui o mais puro arroubo de otimismo, esperança e crença. Em tudo o que é feliz e que gera vida. Otimismo perante a vida. Esperança, ainda e sim, no ser humano. Peace.
Rosália era uma gordinha safada, que nos dias de chuva se divertia mostrando fartos seios a quem passasse pela rua. Tinha lá seus vinte e poucos anos, mas era como uma criança: boba até não poder mais. Dormia chupando o dedo, e de vez em quando até mijava na cama. Achava graça de tudo, mas se ouriçava toda era com uma boa sacanagem. Deixava-se relar por meninos imberbes, invariavelmente acometidos pelo priapismo juvenil e ejaculação precoce. Divertia-se como uma louca ao ser paparica em troca de sexo, e jamais recusava uma oportunidade de estremecer a terra com seus orgasmos retumbantes. Dentre os fornicadores, era tida como a melhor trepada do século, pois topava de um tudo e ainda pedia bis. Sua farra só acabou quando foi currada por nove estivadores fétidos e mal intencionados. Fizeram dela gato e sapato, e daquela noite em diante, enlouqueceu de vez. Ela foi vista remando em direção a Paquetá, mas por lá, jamais foi vista. É possível que tenha naufragado em seu próprio delírio, ou esteja à deriva, em direção à terras mais promissoras, onde poderá enfim se recuperar do baque orgiástico e começar uma nova vida, com a cintura mais acentuada e batom vermelho nos lábios.
– Texto genial do Rafa Paschoal, do blog suburbanismos (link ao lado). Mais um da série Textos que eu queria ter escrito.
– Texto genial do Rafa Paschoal, do blog suburbanismos (link ao lado). Mais um da série Textos que eu queria ter escrito.
Um bom termômetro do quanto se é querido, pode ser o fato dos amigos não deixá-lo dormir num domingo modorrento como este. Não que eles não saibam da sua noite virada, não que eles não saibam de que você precisa descansar. Alguns deles também viraram. Alguns deles também estão cansados. Mas ainda assim te buscam. Isso é bom. Embora atrapalhe meu sono. Embora em domingos abafados como este, eu não queira mesmo fazer nada. A não ser engolir rápido o Cafi-Lisador, que extermina sua dor de cabeça em 1 min (é poderoso o negócio).
Não posso estar com todos ao mesmo tempo. Cada um na sua trilha. Na sua viagem. Mas atendo, converso, damos risadas, prometo uma ou outra coisa que não tenho certeza se será cumprida, e me volto pro domingão abafado. E a cabeça (agora sem dor), grita. As histórias gritam. As palavras gritam. Querem sair. Tem muita coisa que quero fazer. Tem coisas que realmente acho valiosas, e que quero lançar por aí. Pra que outros vejam. Outros amigos se emocionem e se divirtam. Aí dou bolo nos amigos (pelo menos até a noite cair) e me entrego pros delírios que cospem pelos sete buracos da minha cabeça. São mais ou menos assim, os domingos modorrentos e abafados. Uma alegría sem par.
"O que nunca pensei é que pudesse ser assim tão vazia uma casa sem um anjo. Dentro de mim existe alguma coisa que espera a sua volta, de repente, não sei se pela janela ou se aparecerá novamente no mesmo lugar. Para prevenir surpresas, tenho deixado sempre abertas todas as janelas e todas as portas."
Caio F.
Caio F.
Tenho sido questionado sobre muitas coisas. Coisas até de que não faço nenhuma idéia. O mais grave (pra não dizer irônico), é que justo quando eu mais busco respostas e saídas, mais vem gente me questionar. Não estou reclamando. Até porque são porquês de gente que eu gosto, que confia em mim, do contrário não tavam nem aí pra minha opinião. Mas são muitos porquês. Ah, mas agora seu blog é branco? É, é branco. Ah, mas você não tá escrevendo muito, né? Não tô escrevendo muito, talvez porque não queira escrever qualquer merda. Ah, mas o branco dá um ar mais profissional. Dá? Não sei, não pensei nisso. Ah, mas... Chega. Eu preciso muito de respostas, também, acreditem. No fim das contas, acho bacana este processo de troca de confiança, e me ajuda num exercício que venho tentando me empenhar cada vez mais: a tarefa hercúlea de ser generoso. Putaquipariu, como é difícil ser generoso. Mas é tão mais bacana quando a gente encontra um pela frente, ou mesmo, consegue ser. Peace.
Tentava escrever sobre este filme. Não consegui. É o tipo de filme (que a mim parece perfeito), que não tem nenhuma espetacular pretensão, mas que te dá tudo que você quer/precisa ver. E sentir. Não consegui escrever. É demais pra mim. Apenas indico que assistam, sem falta. E tentem decifrar se a fala de Joaquim Phoenix (no papel da sua vida), aquela, perto do fim, em que ele diz estar "muito feliz" é sincera ou não. Respondendo a isto então, tudo estará explicado. Assistam!!
– O Inacio Araujo escreveu sobre ele, aqui.
Todas as teorias de finais de novela, filmes musicais e/ou bom mocismo que porventura ainda pairarem na sua cabecinha cheia de idéias mas nenhuma cam (ou pau) na mão. Esqueça toda essa merda. Acredite no outro sim, mas muito e principalmente em você mesmo. E acredite mais ainda no dom, manha, talento, chame como quiser, esse negócio que tem aí dentro e faz você sonhar em horário comercial. Pois bem, agarre-se nisso e vá. Esqueça aquelas reviravoltas mirabolantes, pois não existem gênios, não existem deuses entre nós, almoçando em restaurantes por kilo, ou andando de metrô. É tudo uma questão de você ser e acreditar naquilo que você realmente é. E pode fazer. Peace.
Eu já disse aqui que sou chato. Assim como já me classificaram de chato carismático. Ou que possuo um humor ácido. Na verdade acho que tenho é um mau humor ácido. E isso por si só, já acho engraçado. Ou patético, sei lá. Não sei se tenho mesmo o tal humor ácido, acho que estou mais pro implicante mesmo. Mas conheço alguém que comprovadamente é o humorista mais ácido e inteligente que já esbarrei. O cara tem umas tiradas de doer e uma crítica sempre mordaz e inteligente. Ele não perdôa, alfineta mesmo. Mas tudo com educação, com um português corretíssimo, profissional das letras que ele é. Quer um exemplo? Vai no blog do rapaz, aí na lista dos fodões e divirta-se: noteleferico.blogspot.com
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