morta

Aquela carne fedia muito. Forte. Presente. Ele ainda a abraçava, acarinhava-lhe os cabelos secos. Cabelos de cadáver. Estava morta. Ele sabia. Ela não o via mais. Mas ele não se apartava daquela decomposição. Forte. Fedia. De nada adiantavam suas lágrimas caindo sobre aquela pele seca aberta em feridas podres. Estava morta. Ele sabia. Sorria às vezes, olhando com carinho aqueles olhos fechados. Sorria. Ela não ouvia mais. Estava morta. Ele sabia. Apertava ainda com mais força aquela carne gelada entre seus braços. Apertava. Chorava. Sorria. Tinha tanto calor e ela não sentia mais. Estava morta. Deitou ao seu lado, encolhido, fetal, calado. Olhava o seu rosto, ainda apaixonado. Não precisava falar. Não a via mais. Estava morta. Não estava mais ali. Mas ele não sabia.

2 Response to "morta"

  1. Silvinha Says:

    o my... é pra fazer a gente chorar de soluçar, é?
    tenha misericórdia...

  2. Aline V. Says:

    me fala que você tem um livro