É assim mesmo quando vejo o mar. Como o menino que espera a semana inteira o domingo que os pais o levarão à praia, com sua bóia preta. É assim mesmo quando vejo o mar. Quando não se sente o tempo passar naquele dia que parece não ter mais fim. O sal e o calor do sol na pele. A temperatura da água, as risadas, as histórias de netunos e polvos gigantes. É assim mesmo quando vejo o mar. O fusca branco parado na beirada da praia. Toalhas vermelhas, isopores brancos com cordões de nylon azul. Azul cobalto da cor da água. É assim mesmo quando vejo o mar. O cheiro do sal, da maresia, o vento que gela a pele molhada. Escorregando pelo meio da bóia preta. De pneu de caminhão que o pai arranjou. É assim mesmo quando vejo o mar. Com Nádia e seu largo biquini laranja, de laços compridos. Seus olhos tão verdes. Ou será por causa da água do mar? É assim mesmo quando vejo o mar. Uma cor de ouro na pele no fim da tarde. Uma preguiça boa na hora de ir embora. Uma tristeza alegre entrando no fusca sacudindo a areia dos pés. É assim mesmo quando vejo o mar. Hoje, sentado na areia, quando o vento vem do mar, trazendo você. Miragem.