Me espera depois da chuva, naquele ponto que já nos é familiar. Prometo não demorar. E este tempo vai ser tão breve e duradouro quanto esta chuva, que insiste em cair nas horas erradas. Você diz que a chuva é nossa amiga, lembrando a musiquinha que aprendera no primário. Porra nenhuma. A chuva só é minha amiga quando estou em casa, vendo TV, Doritos gigante ao lado do controle remoto, no movimento preguiçoso que precede à punheta. Aí sim, a chuva é minha amiga. Aproveite este tempo em que vai ficar sobre aquela marquise e pense, se ela não cair, a marquise, em tudo que te levou até ali. Pense na razão pela qual vai ficar naquele ponto, a me esperar. Pense bem. Pois eu não demoro. Eu venço a chuva, que não é minha amiga mesmo, e chego quando você menos esperar. Porque eu sofro, choro, esperneio, mas não mudo. Na verdade, a gente não muda muito, mesmo. Mas tudo bem, temos tempo. Há milênios nas nossas costas e outros tantos à nossa frente. Um dia a gente muda. Aproveite este tempo e pense. Porque nem a chuva é minha amiga e tampouco eu sou seu amigo. Se eu prometi que te encontro é porque vou te encontar, mas daí a você pensar que sou seu amigo, é uma distância tão grande quanto a quantidade de lixo que a enxurrada vai levar, rua abaixo, no sentido contrário ao engarrafamento que já se formou a horas, por causa da chuva, nossa amiga. Mui amiga. Se vou te encontrar é porque tenho vontade. É porque eu quero. Não porque você quer ou porque me importo com o que você pensa. Pensa bem. Não sou seu amigo. Não considero minha amiga, esta chuva, que tanto te agrada. Prometi vencê-la pra chegar até você e o farei. Pensa bem. Que motivo me levaria a tamanho sacrifício, se a TV, o Doritos e a punheta já estavam garantidos em casa? Pensa bem. A chuva, pode até sim, ser sua amiga. Mas creia, eu não. Eu, só quero te comer.
15.1.09
Tomara que coma. :)
15.1.09
PQP! A realidade dói nos ossos e na alma. Mas é a realidade. Texto nota mil.