Te peço, não me acorde agora. Te peço a bênção de me deixar morrer dormindo. Pois sonho. E o meu sonho é bom. Não, não me chame ainda. Sai devagar. Em silêncio. E deixe que eu durma, ainda um pouco mais. Pois sonho. E no meu sonho, eu me vejo, como sempre vi a ti. Único, como nunca vemos a nós mesmos. Agora posso ver, sem surpresa, o meu corpo na cama. Encolhido. Em sono e em profunda paz. No sonho, talvez já morto, eu me vejo e estou feliz. Não me chame. Não quero voltar e ter que me confrontar contigo. E comigo. Me deixe assim, em paz. Pois sonho. E o meu sonho é como uma vida inteiramente nova, pois estou morto. E não podes me despertar, por mais que queiras. Eu durmo o sono profundo dos que não querem mais o mesmo do que sempre houve. Te peço, não me acorde agora. Sai devagar. Não me olhe. Não me toque. Não tente me despertar. Eu não pretendo voltar.
7.4.09
Muito lindo, cara. Na boa, o texto me emocionou. Parabéns.