Sonho


Te peço, não me acorde agora. Te peço a bênção de me deixar morrer dormindo. Pois sonho. E o meu sonho é bom. Não, não me chame ainda. Sai devagar. Em silêncio. E deixe que eu durma, ainda um pouco mais. Pois sonho. E no meu sonho, eu me vejo, como sempre vi a ti. Único, como nunca vemos a nós mesmos. Agora posso ver, sem surpresa, o meu corpo na cama. Encolhido. Em sono e em profunda paz. No sonho, talvez já morto, eu me vejo e estou feliz. Não me chame. Não quero voltar e ter que me confrontar contigo. E comigo. Me deixe assim, em paz. Pois sonho. E o meu sonho é como uma vida inteiramente nova, pois estou morto. E não podes me despertar, por mais que queiras. Eu durmo o sono profundo dos que não querem mais o mesmo do que sempre houve. Te peço, não me acorde agora. Sai devagar. Não me olhe. Não me toque. Não tente me despertar. Eu não pretendo voltar.

1 Response to "Sonho"

  1. Antônio Moura Says:

    Muito lindo, cara. Na boa, o texto me emocionou. Parabéns.