Santinho é um jovem que ganha a fama de santo ao realizar um milagre após o suicídio de sua mãe, numa comunidade ribeirinha do Alto Amazonas. Há também o fato de ter sido ele quem encontra os restos do vestido sujo de sangue, de uma menina morta, jamais encontrada. A partir daí, todos os anos, ele abençôa, faz milagres e narra ao povo da pequena comunidade, as previsões que a menina lhe revela. Esta é a história de A Festa da Menina Morta, dirigido pelo ator Mateus Nachtergaele. Foi com grande expectativa que fui assisti-lo. Fosse pela questão sobrenatural que permeava o tema, fosse pela admiração que tenho pelo talento de Mateus, como ator. O fato é que talvez, esta grande expectativa tenha me feito sair do cinema com a sensação de "Não gostei deste filme". Embora realmente não seja um filme fácil de se digerir, há alguns "buracos" que ficam sem maiores explicações, ou pequenas situações que, creio eu, sejam pecados de quem filma pela primeira vez. Há uma necessidade estética muito grande da parte de diretores principiantes brasileiros, tenho notado. Por exemplo, uma longa sequência, de um caminhão correndo por uma estrada de terra. Estamos na carroceria e vemos o vilarejo se afastando, se afastando, sendo enfim engolido pela nuvem de poeira deixada pelo caminhão na estrada. É longa. E eu me pergunto: pra quê? Enfim, deve ser a tal necessidade estética. Mas, por que estou falando de um filme de que não gostei? Porque esta sensação foi desaparecendo, a medida que refletia em tudo o que acabara de ver. Sim, não é um "filme fácil" e você carrega pra casa todo o incômodo que ele causa. Apesar destes "pecados estéticos" que mencionei, Mateus parece sim, saber o que está fazendo e a forma que está usando para isto. Por exemplo, quando apresenta os personagens. Desde o cara mijando pela manhã, no primeiro plano, até as tias/empregadas que cuidam da casa e do Santinho. Por exemplo, quando não explica ou define a cena entre Santinho e a mãe. Delírio ou realidade? Por exemplo, quando dá nome a todos os personagens secundários, mas não o faz com os principais, estabelecidos apenas pelas suas funções: pai, mãe, Santinho. Por que? Repito, Mateus sabe o que faz. Talvez pela grande experiência como ator, ele tenha sabido conduzir sua história não como a forma padrão que esperávamos, mas de uma forma totalmente criativa e consequentemente, original. Quando opta por uma narrativa solta, descosturada, "mau explicada", creio que tenha tentado estabelecer um sentido comum, apesar de não habitual. O de percebermos, antes de tudo, o estado de dramaticidade constante. A sensação de que há muito mais ali, do que nos é mostrado. Um drama do não dito, da insatisfação do ser humano com sua própria condição, algo que não pode ser explicado ou descrito. Talvez por não ter entendido isto, a princípio, tenha saído do cinema com aquela opinião que disse no início. Talvez só por isso. (E tá confirmado: Daniel de Oliveira é um dos melhores atores de sua geração). Palmas!