Mergulho


Nestes dias em que chove muito. Mas o calor não cessa. Nestes dias que são mais abafados que molhados. Embora incomode. Eu lembro da presença da chuva em vários momentos que já vivi. É uma espécie de prazer ao contrário, estes dias em que chove muito. Lembro da sensação dos banhos de chuva no quintal, ou na rua em frente de casa. Ou dos mergulhos na piscina, ou mesmo no mar, em dias de chuva – rotinas cariocas. Sabe aquela sensação de entrar na água, não num dia claro de sol, mas num dia até meio frio, nublado e chuvoso. Quando falo da espécie de prazer ao contrário, talvez queira dizer que os dias de chuva pode sim atrapalhar ou tirar o prazer de muita gente, eu incluso. Mas tem o além disso. Lembro por exemplo que nos dias muito quentes, que já se previa a chuvarada pela tarde, eu entrava embaixo do fusca do meu pai, estacionado na garagem – nesta época eu cabia – e só com a cabeça pra fora, embaixo da traseira do carro, ficava observando os primeiros grossos pingos de chuva encontrarem o cimento do quintal, tão quente do dia inteiro. Tinha uma espécie de temor ali, sei lá. Fosse da natureza, fosse do quintal em silêncio e deserto. Fosse talvez porque meus pais não soubessem que eu estava ali, embaixo do fusca. Quieto, olhando a chuva começar no quintal. Mais ou menos como o estranho que pode parecer mergulhar numa piscina, debaixo de chuva. O temor sempre presente. Uma espécie de desconhecimento, misturado ao prazer que a água te dá nestas condições. Mais até do que aquele banho de chuva, tomado na praia, depois de um dia inteiro de sol – mais cariocas. Típico dos dias de muito calor. E isso é sensação que não se pode descrever. Só mesmo sentir. É um prazer imenso e uma sensação de estar vivo, que não se pode mensurar. Mas o mergulho na piscina desconhecida, debaixo de muita chuva, talvez seja mesmo a espécie de prazer ao contrário. Como um suicida que se atira, sem no entanto desejar morrer.

7 Response to "Mergulho"

  1. mélis Says:

    incriiivel! amei!
    Toda vez que chove muito eu morro de vontade de sair.
    São Paulo é meio antipática pra esse tipo de coisa ou é que ficando mais velha a gente fica mais besta.

  2. pablo speranza Says:

    Lluvia como la suya acá no tenemos, tampoco hablamos de tomar un baño de una, solo de quedar hecho sopa, empapados o solo mojados; todas negativas, mujeres corrompidas por el frizz de sus peinados.
    Pero todos sabemos que la lluvia nos hace bien, solo necesitamos sentir el olor a la tierra caliente cuando comienza a mojarse, a pachamama, para que se nos llene el pecho de eso.
    Saudades da sua chuva, do meu amor embaixo dala na sua terra, me falando de quando era criança e pegaba banho com o ceu. Mergulho sentimental.

  3. Heitor Nunes Says:

    Meliss, uma dica: tem sempre uma pracinha em sp que podemos passear debaixo de chuva. Experimente.

    Speranza, o mergulho foi total sentimental!!

    :))

  4. Denis Says:

    Adoro quando chove em SP. Amo de paixão! E o mais engraçado é que só neste mês já tomei umas quatro ou cinco chuvas na cabeça, daquelas de chegar empapado em casa, porque não levei guarda-chuva. É tão bom!

    *

    Foda é a meia molhada no tênis. (Desculpa, mas tive que deixar o Hitler se manifestar também!)

  5. pablo speranza Says:

    Lembrei do meu psiquiatra. Um dia que tivemos nosso papo e ele quasi pelado porque tinha pegado a pior chuva do ano e tirado a roupa molhada. Tenho certeza que algum filme xxx utiliza o que aconteceu.

  6. mélis Says:

    Pois é... esse ano eu consegui dois belos banhos de chuva, um em Fortaleza, outro aqui mesmo, mas numa situação 'piscina'

    É que o meu "hitler" é menina e sabe que certos sapatos são feitos de açucar :(

  7. Silvinha Says:

    amei o post. amo chuva. se tiver trovão e relâmpago, melhor ainda. esse ano tem sido bem bom!
    dois mil e chove...