As peças cegas do xadrez


Ficou acertado que é assim. Primeiro a Vitamina C, depois o resto do vinho branco que tá na geladeira, e só depois o tiro na cara que eu vou dar no espelho, trincado, que a Tok&Stok não quer trocar. A bravura é muita. Aquela de gladiador, que é de gritar, segurar firme pelas patas e cuspir nas feras e vomitar todo o amor que já não cabe mais em si. Se. Mas não. O clima quente e chuvoso e as ruas escorregadias, pedem antes cautela. Que coisa mais difícil, cautela, meu Deus. Quase tão difícil quanto aquela outra top model inatingível, de nome disciplina. Quem inventou essas palavras? Quem inventou o amor, meu senhor? Me explica por favor. Quem inventou essas coisas sublimes que queremos tanto, sem nunca (quase) alcançá-las. Tem a chuva noturna que te acorda molhado, madrugada na cama. Tem os objetivos correndo todos na sua frente. Eles calçam aqueles tênis novos pra correr, que você quer comprar, quilômetros a vencer. No cimento, que é a sua meta. Meta de uma vez por todas uma coisa na sua cabeça: você vai conseguir. Meta outra coisa: você ama um bocado de gente por aí. E você merece, sejam elas merecedoras ou não. O sentimento é sempre seu. Pouco importa se o outro saiba ou não, queira ou não. O sentimento é sempre seu. É individual, solitário, punheteiro de prezinho, A E I O U, a tia lhe ensinou muito bem, lembra do decote que ela usava? Ah, se a sua mão soubesse. Coisa mais antiga essa de querer retribuição. Porra nenhuma, aprendamos. Que graça tem? O sentimento, se genuíno, é seu, existe e ponto. Não importa se é ressonante. O que importa é a existência. A sinceridade. Ficou acertado que agora é assim. Confia no seu ascendente, que graças ao Cosme vidente previu, é bem mais legal que o seu signo primário. É bicho, vai ser uma brasa, mora? Deixa o tempo passar em paz. Deixa a amizade chegar primeiro. Deixa a confiança preparar o terreno pra acontecer o que tiver que acontecer. A gente não manda nada, porra nenhuma. A gente não é nada neste tabuleiro gigante. Peças cegas de um xadrez já carcomido pelos cupins. Relaxa, respira, olha a paisagem sem falar muito, isso é coisa de jovem. Falam, falam, como se quisessem explicar pra si mesmo o que eles só vão entender mais tarde. Fica quietinho, na sua. Ele vai aos poucos encostar a cabeça no seu ombro, fingindo dormir, só pra ter o prazer de ser acordado por você.

4 Response to "As peças cegas do xadrez"

  1. Otavio Martins Says:

    Caraca, Heitor! Que coisa linda, brother!

  2. Antônio Moura Says:

    E ele, ofegante em seus tênis turbinados, saiu do asfalto e chegou ao inevitável, à conclusão: o único amor que existe é o amor de si.
    Adorei o texto, Heitor. Ler seu blog é inspirador.

  3. mélis Says:

    MINHANOSSASENHORA!

    imprimo isso e me dou alta da Análise. rs..

  4. Anônimo Says:

    caralho meu velho!!!! que autoreconhecimento comtemplativo!!! as palavras correram de mim e nem sei dizer nada.... BACANA DE MAIS!! Abs. Ale