Como se fecha-la fizesse alguma diferença, antes que pensasse, um trem bala rompeu a porta do apartamento, destruindo tudo o que encontrou pela frente. A começar com a minha resistência em aceitar o fato de estar vencido. Não que fosse exatamente um bravo lutador, mas antes o cão vira-latas que foge da briga porque se sabe mais forte. Um ético imprestável. Pra que boas maneiras com quem já se mostrou de verdade? Os sentimentos sinceros, assim como as amizades, não requerem subterfúgios. Mostram-se nus, ainda que sujos, na calçada, debaixo da chuva e desprotegidos. Porque é isso que somos todos. Desprotegidos ridículos que se vendem auto-suficientes, poderosos e por vezes inescrupolosos, na ânsia derradeira de se salvarem. Do outro. Não ganha a luta quem resiste e sim o contrário. É na fragilidade que se demonstra força. Se pareço frágil é porque tenho coragem. Agora que me falta abrigo, só me resta aceitar o cinturão de campeão deste ringue de lençóis. Nesta casa destruída pelo furacão imenso que deixei entrar, embora obstruisse todas as passagens possíveis. Embora o medo fosse o gigante invencível que dormia pesado. O medo, que me transformava no escorpião virulento que ameaçava de morte quem o tentasse. Talvez tenha usado meu veneno contra mim mesmo, como um suicida que não quer morrer, mas apenas, nem que seja por breves segundos, como um rei soberano, experimentar o salto.
7.9.10
"Mostram-se nus, ainda que sujos, na calçada, debaixo da chuva e desprotegidos. Porque é isso que somos todos."
Outro texto maravilhoso, que que é isso...
11.9.10
genial, adorei tua prosa