Ultimamente, e isso acontece quando demoro muito a voltar, tenho tido um certo estranhamento em relação ao Rio. Nem tão aprazível assim, balneáreo onde eu naisci. Não escrevi errado não, apenas pontuo a pronúncia carioca ao verbo nasci. Aliás o medo de escrever errado também, ultimamente, tem se mostrado um martírio. Outro. Explico o estranhamento: é como aquela sensação que se tem quando observa-se grandes aviões taxiando na pista antes de voar. Os grandes, os vôos internacionais, os vôos sem volta, alguns. Porque também é normal não voltar. Tenho lido muito, tentado muito e constatado muitíssimo. Aprendi muito nos últimos meses em que não voltei ao Rio. Forço-me aqui. Forço-me no exílio e não me refiro somente ao estado de nascença, não. É um exílio por vezes muito pior e mais profundo e mais cruel do que apenas não pegar um vôo. Tem uma crônica, ou tragédia, ainda não sei, carioca, que insiste em não sair. Me pego emaranhado na história do Cosme Velho, que testemunhei a tantos anos atrás e que tento agora, reproduzir. Mas o Rio me trai de volta. Ele não perdoa a minha traição de amante sacana, que fode pra doer, porque sabe que assim o faz melhor. E que assim se faz inesquecível. Porque o que dói não se esquece, por vezes até se ama. Loucamente. O Rio não me perdoa e não me entrega de bandeja nas mãos a história que quero contar. Porque enlouquecer, ultimamente, tem sido tão prazeroso quanto elucidativo. E isso me faz melhor. Cruelmente melhor, embora não me impeça de sofrer. Pois eu prometo te enfrentar, e sim, perdoar a sua marra tão típica. Porque quem não perdoa adoece. E eu queria tanto que você me visse assim, feliz e crescido e coerente. Meu Deus, enfim coerente. Eu queria tanto que doesse em você algo escrito por mim. Tanto ou mais do que dói em mim mesmo. Eu prometo te enfrentar e declarar meu amor de amante arrependido. Eu prometo arrancar de você a história que me deve. Porque nós dois, velhos sacanas, merecemos.
9.9.10
Eu sou louca para conhecer o Rio. Mesmo. (Apesar de ser bem estadista e não abrir mão da minha São Paulo por nada!)
É que a editora pela qual publiquei meu livro fica no Rio, e tenho um amigo que mora em Resende, que eu quero muito conhecer pessoalmente.
E sei lá, as coisas que você escreve mexem comigo. Estranho.
9.9.10
'naisci' :)
7.11.10
Na pronúncia carioca, "padrão", não é /'naisci'/, mas sim, /'nasci-i'/. Talvez seja diferente em Magé, não sei...
É uma pena, Heitor, que como excelente carioca, você tenha se tornado um razoável paulistano (ambiguidade intencional...).
Só o pitado de um carioca, meio paulistano, que você conhece, mas não procura há alguns anos...
Tout de façon, namasté!
7.11.10
Não se pode ser excelente em tudo, eu penso. É uma pena também, que vc, meio paulistano, não se identifique (sacanamente carioca). C'est la vie.
ps. já viu o blog novo?