Tanto tempo...


Passaram-se alguns anos. Poucos. O suficiente para que ambos desaparecessem. Cada um por uma estrada. Por mundos distantes. Diferentes agora. Depois de tanto tempo... Sem se falarem. Sem se ver. Sem se saber. Eis que se encontram. Tão de repente e tão por acaso neste mundo que não era mais o deles. Cada um na sua nova casca, na sua nova cara. Tão mudados. Mas eram eles ainda. Surpresos, sentaram. Um café. Uns sorrisos. Uns cigarros. Umas perguntas. Normal. Tanto tempo... E você? Indo. Filhos? Não. Eu tenho. Quantos? Morei fora. Tanto trabalho. Eu parei. Tanto. Nossa. Eu não voltei mais. Claro que eu lembro! E agora? São minha vida. Casada? Ainda. Eu também. Silêncio. Por um instante ainda, olharam-se com mais atenção. Como faziam antes. Bem fundo, nos olhos. Buscavam. Buscavam o quê? Eles. Ontem. Tanto tempo... E se viram, finalmente. Iguais. Idênticos. Imediatos. Fixo o olhar. Mas o olhar, este era outro. Fixo, mas agora vazio. Não estavam mais lá. Não existiam mais. Perceberam. Tinha algo triste lá dentro. Algo que não conheciam. Algo que não reconheciam um no outro. Não sabiam explicar. Não sabiam entender. Silêncio. Incômodo. De repente. Era o olhar da casa vazia. O caminhão da mudança esperando lá fora. O olhar frio. O olhar vazio. Era o olhar do morto antes que lhe fechem os olhos.

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