O bagre e a rosa

Eu sei que você preferia rosas. Amarelas. Não vermelhas. Mas eu não sei comprar flores. Sério, não sei mesmo. Assim como também não sei comprar peixes. Tudo bem. Você vai dizer que, peloamordedeus, qualquer sujeito sabe distinguir uma rosa de uma margarida, um gerânio de uma orquídea. Qualquer sujeito. Menos eu. Assim como, talvez, o único peixe que eu saiba reconhecer nas bancas da feira, seja o bagre. E também as tais rosas amarelas eu me sentiria tímido em comprar. Mesmo para você, ou, justamente, por ser para você, que sempre prefere rosas. Confesso que não ligo muito pra flôres, não. Gosto de verde, sim. De mato, de mata fechada, ou qualquer graminha tá valendo. Mas flôres, não. Até tenho dois jarros em casa, um comprado, o outro não. Mas estão lá, vazios, num canto. Sem flôres. Sem rosas. Eu sei que você gosta tanto de rosas, quanto eu de mato, talvez. Mas não as comprei, não porque não quisesse. Mas, você sabe. Eu fico tão tímido em relação a tudo que diz respeito a você. E olha que eu sou macaco velho. Ou um bagre velho, sei lá. Sei que você merece sim, as tais rosas. Mas, quem sabe, você ainda encontra alguém que seja fino o suficiente, descolado o suficiente, sagaz o suficiente pra lhe comprar flôres das mais variadas espécies, cores, cheiros, intentos e consequências possíveis. Tão possíveis quanto o meu alcance a você, que, ainda não acredito, tem a capacidade de me deixar tímido. Tudo bem, eu sou um pouco tímido mesmo, mas, não ter a capacidade de chegar na barraquinha de um florista qualquer e pedir uma dúzias de rosas amarelas... faça-me o favor. Não espalha isso, tá? O lance do bagre...

2 Response to "O bagre e a rosa"

  1. mélis Says:

    Cara, que lindo!

  2. Heitor Nunes Says:

    thank´s Meliss...