Poderia fingir que fui à Londres, fiquei uns dias e voltei com livros, CD’s, posters. Poderia fingir, mas não vou. Me recuso a ignorar a tão doce e tão mais próxima Paraty. De onde não trarei livros, tampouco posters com dizeres de Virgínia Wolf. Trago no máximo algumas lembranças de janelas azuis sobre penhascos cobertos de folhagens, à beira do estouro das ondas lá embaixo. É perigoso, eu sei, mas creio que isso não é o suficiente para mim, ou para me inibir diante da força das ondas nas pedras. Posso escorregar para um tchibum fatal, eu sei, mas isso nunca me impediu. Deveria, reconheço, mas nunca me impediu. Como um tio ao contrário, ainda me arrisco, ainda me submeto à espera do sobrinho mais coerente que virá me puxar as orelhas. Ah, essa juventude tão acadêmica e tão segura em seus perfis virtuais. Talvez não conheçam a dor de um bom escorregão sobre as pedras. As luxações e fraturas que um tombo bem tomado pode causar. E elas ficam, acreditem. Elas sempre permanecem, embora nem sempre elas te inibam. E você cai mais vezes. Cair e levantar, sem beber, de preferência. Porque é preciso estar lúcido para administrar e absorver todas as experiências. Mesmo as dolorosas. Já disseram por aí que existe algum prazer na dor, vai saber. Vai descobrir por si próprio, depois você me conta. Mas eu falava de janelas azuis e estas têm muita força em minhas lembranças nem tão doloridas assim. Janelas azuis só perdem para portões vermelhos. Estes sim carregados de drama, paixões e tragédias, típicas de um bom dramalhão mexicano, ou mesmo carioca. Mas são as janelas azuis que me calam mais, me hipnotizam mais. São por elas que as folhagens lá de fora querem entrar. De baixo e tão perto vem o ruído do mar, de dentro e tão doce pode ser o testemunho do seu despertar. Como se emuldurassem para mim este momento entre as janelas azuis. Como único visitante desta privilegiada galeria, por onde entraria, vencendo pedras, limos, folhas, ondas e penhascos. Lá fora, após as janelas, ainda tem o sol, como quem já vai embora, com inveja de mim.
8.6.10
E pelas famosas janelas azuis, corações sentem falta, saltam a dentro e a fora com novas esperanças, bem diferentes de corações dos portões vermelhos.
9.6.10
eu me transportei por um instante para suas janelas... desculpe a invasão, mas foi quase que impossível resistir... que as chagas nos sirvam como balsamo benéfico para "cair, levantar e recomeçar" - bjos
9.6.10
achei lindo o texto
e morri de rir com 'beber, cair e levantar' foi inevitável :P
2.9.10
adorei...
e te linkei no meu blog, pra voltar depois e ler o resto :D