Luta


Pareciam tambores africanos anunciando a luta, mas era só a campainha tocando. Talvez parecessem tambores porque ecoava pela sala We Carry On, do Portishead. Talvez. Mas a luta era certa. Quase. O volume do som aumentou sozinho e de repente sobreavamos um enorme deserto num pequeno monomotor amarelo. O deserto parecia o mar, com enormes ondas vivas. Era bonito olhar as ondas de areia lá de cima e minha mão já tava no meio dos seus cabelos. Alguma mágica seus cabelos exerciam, pois eles davam vida própria às minhas mãos. Me faziam sentir idiota, frágil. Mas era só porque eu tinha coragem. E mostrava. Os tambores pararam e o avião pousou no meio da sala. Sentamos nos pequenos bancos de madeira seca, queimados pelo calor do deserto. Minhas mão suavam na sua testa. Não haveria luta, era certo. Não haveria entendimento, era certo. Melhor seria voar de novo. Bem alto, de longe, onde podíamos ver tudo mais claramente. Mais bonito, até. Podíamos voar de novo. No pequeno monomotor agora haviam dois lugares. Cabíamos.

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