Tinham combinado um sorvete por volta das 6 da tarde. Telefonemas rápidos, uns torpedos e um atraso se fêz necessário. Desabou um destes temporais pré-verão lá pelo início da noite, atrasando o sorvete. Era um pretesto. Tava calor. Ambos suavam e esperavam. Precisavam falar, mas nunca conseguiam dizer, o que antes pensavam, quando chegava a hora de se verem frente a frente. Naquele dia não seria diferente.
Torpedo 1: Me dá mais uma horinha, vai. Eu não contava com este dilúvio.
Ela resolveu ir pra casa e deixar o sorvete pra mais tarde, sabia lá, quando.
Torpedo 2: Me deu fome. Vou comer alguma coisa em casa, tá?
Sete horas. Oito horas. Nove horas. Dez horas.
A chuva passara rápido. O suficiente pra deixar o ar mais leve. Respirável. Ela abriu bem a janela da sala e respirou fundo enquanto mergulhava a cabeça na almofada.
Torpedo 3: Tô louco pra te ver, mas parece que tão conspirando contra. Chego em 10 minutos.
Onze horas e ele chega. Ela abre a porta e se depara com cabelos revoltados, roupa úmida, um ar cansado, uma barba crescida. Ele entra lamentando. Imprevistos. Chefe chato. Trânsito. Caos. Enchente. Tempo perdido. Tenta se explicar. Ela quer sim, saber porque esperou tanto. Mas não quer ouvir tudo aquilo. Nem quer também dizer tudo aquilo que nunca conseguia dizer quando se viam, frente a frente.
Torpedo 4: (Que chega depois dele) Olha, vamos deixar o sorvete pra outro dia.
Naquele momento eles só se abraçam sem falar nada. Não querem. Não precisam. Ficam assim, juntos. Quietos. Em silêncio. Sem sorvete.
28.10.08
Nada como trocar um sorvete por uma salada, com direito a várias pitadas de beijo e abraço a gosto. Muito boa história! Abração.