Don Bosco


Duas garrafas de Don Bosco depois, levantou da cama sem notar o lençol manchado de vermelho. Caminhou lento até a cozinha e, surpreso, se perguntou se sempre estiveram ali aqueles azulejos amarelos. Não saberia dizer que horas eram, mas tudo parecia ainda escuro. Tentava focar em redor mas não enxergava as coisas com nitidez. Descalço, pisou em algo que furou se pé. Gritou. Xingou. E a cabeça doeu. Puxou o caco de vidro da carne e gritou ainda mais. Xingou novamente. Um cheiro estranho passou pela sua cara. Não era doce. Não era familiar. Mancando, voltou à sala, tentando enxergar. Tudo escuro. O cheiro mais forte ainda. Acre, de repente familiar. Reconheceu-o e um certo temor surgiu, mas não sabia o porque. Pisou em algo frio, escorregou e caiu, amparando-se na estante de ferro, machucando o pulso direito. O cheiro, insuportavelmente próximo, líquido, pegajoso, revelador. Próxima a ele, caída no chão, ela, nua, alguns cacos de vidro em volta e um corte profundo atravessando todo o pescoço, que ainda mantinha a delicada gargantilha de prata, com um pingente de anjo.

0 Response to "Don Bosco"