Imagine que você pudesse matar (realmente) todos os seus desafetos. Matar, livrar-se do corpo e da culpa e a partir disso viver uma vida feliz, tendo por companhia apenas aquelas pessoas a quem você quer bem. Às vezes dá uma baita preguiça de viver e conviver com algumas pessoas. Tá certo que não sou daqueles mais fáceis de se conviver, mas acho que tenho noção se desagrado, a quem desagrado, e acima de tudo, acho que sei respeitar os outros, de um modo geral. Talvez por isso não me considero pedra no tênis de ninguém. É que con-viver hoje em dia tá muito difícil. Numa época de magros, bem-sucedidos, milhagens bombadas, sucesso, dentes brancos, sexo quantitativo (com segurança, claro) hipócritas do caralho, se se foge um pouco a algumas destas regras, você é um peixe fora d'água. Ou um índio sem tribo, gritando em tupi, perdido no meio da mata fechada de Copacabana à época do descobrimento. Imagine-se no Posto 6, cercado de verde, ouvindo as ondas quebrarem pertinho, ali na curva, sobre as pedras do Forte. Pois é. Tá difícil. Querer muito tato e um pouco de malandragem viver uma vida o mínimo saudável por estes dias tão distantes do descobrimento, mas onde descobrimos outras coisas tão mais penosas. Tô sendo muito pessimista? Ok, eu nunca fui muito otimista, mesmo. Mas tô longe de ser fatalista. Apenas não tenho muito saco pra me enganar, ou aos outros, o que é bem pior. Talvez seja um lampejo de serenidade e consciência, e isso é bom. Me dá um respiro pra seguir andando, porque ainda tenho muitas risadas pra dar, apesar da velha Urtiguisse que me acompanha. Acabo de ler no blog do Otávio, que menciona a "apatia desoladora das relações virtuais". Essa apatia me enche de preguiça. Não só a mim, mas talvez a você também, que me lê agora. Um mínimo de tentativa sã de levar esta atual vida doida e rasa pode ser um preventivo a esta apatia. Então, me deixem de fora destes joquetinhos de conquistas e projeções baratas, de gente barata, pela rede mundial de computadores. Me deixem de fora desta cultura plástica de gente sem alma, trajando um incrível corpão. Eu quero sim, o onírico, mas que tenha a força de uma boa mordida no pescoço.
19.10.09
Por outro lado, tenho que agradecer a esse mundo virtual por me dar acesso a gente que escreve coisas como essa.
Sensacional do começo ao final.
(A ultima frase, aliás... pelamordedeus!)
22.10.09
Adorei seu texto! Sem falar que essa imagem de como deve ter sido ser um índio no dia da chegada dos portugueses é uma das mais recorrentes nos meus momentos de filosofia. Me identifiquei muito com tudo! Mas concordo com a dona méliss! Se não fosse o mundo binário, como eu estaria lendo e dizendo tudo isso pro sr? =D
22.10.09
Tá na hora de armar um sarau, pra todos se conhecerem!!
22.10.09
há! chega de interpelação virtual. eu quero ir. topo vinho, cerveja, café. agua com gás. suco de couve macrobiótico. vocês mandam. i dont care. eu juro que vou me adequar. mas eu quero ir.