Agora volta. Tenta manter a direção em linha reta. Pelo menos desta vez, em que você corre perigo. Como um boi no corredor que o levará ao golpe fatal. Agora chora. O boi gemeria alto, se batendo contra as paredes do corredor. Mas nós, ao contrário, choramos. Baixo, na maioria das vezes. Nem sempre. Mas voltando, o importante é não perder o foco. Não se perder deste caminho em linha reta que o levará lá não me pergunte onde, pois ainda não temos a resposta certa (tempo). Mas é para onde devemos seguir. Ajeita os cabelos. Seca o rosto. Olha firme à frente e tenta mais uma vez. Entra. Assim, prosaicamente, como quem vai à padaria sábado de manhã. Ou mesmo impertigado, como naqueles clubes de cavalheiros de antigamente, onde mulher não entrava e muito menos fumava esses cigarrinhos cretinos. Senta. Como quem espera a carne de segunda que sobrou no açougue, pensando no faisão do filme do Buñuel, aquele a que você não tem acesso. Me refiro ao faisão. Tem coisas que não merecemos. Tem coisas que francamente, não nos merecem. Agora volta. Por aqui, senhor. Desesperados entram pela entrada de serviço.
A quem devo me submeter? Que besta devo adorar? Sempre me atormentaram estas perguntas do Rimbaud. Sempre me atormentaram tantas coisas. A começar por mim mesmo. É sinal de fraqueza não se lançar de uma vez? Me sugerem cautela quando o que eu mais quero é quebrar as vitrines da farmácia e estilhaçar seus perfumes falsos e baratos. Perdôem-me os caros, mas em termos de cautela, constato agora que a empreguei sempre em lugares errados. Então, agora quero sim, quebrar as vitrines, estilhaçar ranços e medos antigos. Isso tudo me atormenta muito mais do que Rimbaud. É tudo tão fácil de ser inconscientemente destruidor. Dia desses falava com alguém que me ama muito, mas não tem a menor idéia de quem eu sou. Eu a amo também e, felizmente, sei exatamente quem ela é. É só um exemplo. A água está subindo e eu não alcanço a portinhola. O transatlântico está afundando e pareço estar ardendo em brasa. E os botes não chegarão a tempo de me impedir de furá-los.
Espécie de espetáculo que se repete diariamente. Onde o palhaço se esmera em, humilhando-se, fazer rir a platéia de não-pagantes exigentes. O bufão, se honesto, faz-se tolo. A platéia, sempre sedenta, faz-se o mais vil carrapato.
A sua cara era mesmo pequena debaixo de todo aquele sol, bomba nuclear estourando as nossas cabeças. Mas também tinham as nuvens, tão brancas e um vento tão quente e diante da minha, a sua cara pequena. Protegida por aqueles óculos escuros que escorregavam no seu suor. O sol estava realmente muito quente, mesmo para aquele horário de pico. Íamos a pino, eu, você, o sol, a caminho dos fornos que depois de nos incinerar, talvez nos fizessem voar feitos fumaça, misturadas às nuvens brancas. Mas você falava naturalmente, assim normalmente, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo de se fazer comigo. Que olhando a sua cara pequena diante da minha, tinha ganas, confesso. Às vezes de beijá-la. Às vezes de esmagá-la. Convença-me do contrário.
...rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness... give me truth.
– Anchorage, Alaska, USA, 2007.
Foi só uma debruçada na janela. Dessas corriqueiras, pra olhar nada lá embaixo. Um descuido e zás, despencou seu coração, indo espatifar-se no meio da calçada. Foi muito rápido. Ela ainda tentou num impulso, segurá-lo. Mas só o que fez foi vê-lo saltando no ar, sem que pudesse, antes de pensar numa passada rápida pela galeria do rock, fazer qualquer coisa. Viu-o dando cambalhotas no ar, bonito até, os tons de vermelho mudando tonalidades, refletidos pelo sol das 5 horas. Mas ele caía. E ela não podia fazer mais nada. A não ser lamentar. Mas não profundamente. Perdia, inevitável, inexorável, e todas essas palavras estranhas que usamos pouco durante a vida. Tão inevitável quanto aquelas câimbras que lhe dava nas pernas quando ele metia nela. Era batata. As da perna doíam muito durante as câimbras. Bastava fazer um movimento mais intenso para responder aos dele, velozes mas delicados, que as pernas doíam. Pára, pára. Ela pedia. Ele sempre cedia. Ele cedia sempre. No carro. No cinema. Na cama. Ela não. Não sabia ceder, só sabia pedir que ele parasse. Justo nos momentos de mais prazer. Justo quando ele mais se esforçava para lhe agradar. Mas agora, rapidamente, ela via seu coração saltando pela janela. Pulando no ar. O sol refletindo os tons de vermelho, bonito até. Atrasada para a galeria, ela constatava, ao vê-lo cair enfim, pesado, na calçada lá embaixo. Ela não sabia ceder.
Ainda este ano vira documentário o livro "Para sempre teu, Caio F." biografia de Caio Fernando Abreu, escrito pela jornalista e amiga do escritor, Paula Dip. O filme tem direção de Candé Salles.
Ao abrir os olhos, André Luiz sabe que não está mais vivo – embora sinta fome, sede, frio, ele percebe que não pertence mais ao mundo dos encarnados. Ao seu redor, uma planície escura, desértica, tenebrosa, marcada por gritos e seres que vivem à sombra. Que destino seria esse? A tragetória deste médico bem-sucedido pelo mundo espiritual é a história de Nosso Lar. Após o sofrimento nessas zonas purgatórias, ele é levado para a cidade que intitula o filme. Novas lições e conhecimentos, marcados ainda por momentos de dor e sofrimento, estão no caminho deste homem, que enquanto aprende como é a vida em outra dimensão, também anseia em voltar à Terra e rever a família. Só que, ao conseguir ver seus entes queridos, André Luiz percebe a grande verdade – a vida continua para todos.
Cinéfilo que se preze deve se lembrar da obra-prima do autor japonês Hirokazu Kore-Eda, "Depois da Vida". Após a morte, as pessoas são levadas a uma estação intermediária, na qual escolhem o momento de suas vidas que será recuperado para que elas o levem para a eternidade. Kore-Eda talvez não tenha lido Chico Xavier, e muito menos o primeiro dos 16 livros que lhe foram ditados pelo espírito de André Luiz, mas a essência é parecida. "Nosso Lar" mostra a primeira etapa da vida após a morte.
No mês que vem, Lon Molnar conclui no Canadá os efeitos de "Nosso Lar" e a previsão da produtora Iafa Britz, que assina o filme pela Cinética, empresa do diretor Wagner de Assis, é ter a primeira cópia pronta em maio, para trabalhar o lançamento, que deve ser um dos mais importantes do ano. O filme tem estreia prevista para setembro.
Para o mal ou para o bem, não era isso que era para estar aqui. Mas está. Coisas já preparadas, pensadas e prontas para baixarem aqui. Hoje, agora. Mas não. É assim mesmo, acho. Como os dias um após o outro. Como a trombada na curva da esquina. Mesmo que se planeje muito ou se planeje nada, acontece o que deve acontecer mesmo. E ponto. Mas sempre é o que tem que ser...
Este sol ri na sua cara. Afunda sua cabeça. Enquanto você caminha lado a lado. O famoso far away so close, que ri de novo. Igual ao sol. Pois sabe que nem você vai fazer tudo o que quer dizer, e a chuva, certeza que vai cair mais tarde.
Olha, se você diz não entender este espaço, então não se esforce muito. Não há nada para ser entendido. Muito menos explicado, principalmente a alguém que sequer convive mais comigo. Convivemos por um tempo sim, devido à trabalho e só. Não pense que se instalou amizade entre as partes. Então não se preocupe. Não se dê ao trabalho. E principalmente, não me interpele ou solte adjetivos e sonoridades que nada mais são do que meros achincalhes às coisas que digo e ou escrevo aqui e fora daqui. Não me perturbe mais com suas dúvidas que são bem típicas de quem está a anos luz de quem eu quero e tenho interesse verdadeiro em comunicar. Em me comunicar. Não se preocupe com isto. Não entre mais aqui e muito menos leia ou tente me ouvir. Não preciso me explicar e nem tenho interesse em me comunicar com tipos como o seu.
Tinha um cavalo branco correndo pelas ruas de madrugada. Cruzando os sinais, todos amarelos, que não permitiam que ninguém passasse. Sem atenção. Àquela hora em que só os condenados ainda andavam livres pelas ruas. Fechando os olhos eu podia ouvir o barulho dos cascos batendo ritimados no asfalto. Imaginando sua musculatura dançando por baixo da pele grossa, branca, incansável, preciso, cruzando todos os sinais amarelos. Ele não podia vê-los. Os cavalos enxergam para os lados. Uma vez fui buscar meu pai num hospital em Petrópolis, onde ele fizera uma cirurgia. Chegando lá o encontro sentado, um enfermeiro terminava um curativo. Sorrindo sacana, como sempre, ele contava ao enfermeiro que aquele que chegava era o moleque de quem falara, que subiria a Serra dirigindo seu carro para ir buscá-lo. Tranquilizava-se agora, ao me ver chegar. Meu pai tinha um fusca branco.
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