Rimbaud II

A quem devo me submeter? Que besta devo adorar? Sempre me atormentaram estas perguntas do Rimbaud. Sempre me atormentaram tantas coisas. A começar por mim mesmo. É sinal de fraqueza não se lançar de uma vez? Me sugerem cautela quando o que eu mais quero é quebrar as vitrines da farmácia e estilhaçar seus perfumes falsos e baratos. Perdôem-me os caros, mas em termos de cautela, constato agora que a empreguei sempre em lugares errados. Então, agora quero sim, quebrar as vitrines, estilhaçar ranços e medos antigos. Isso tudo me atormenta muito mais do que Rimbaud. É tudo tão fácil de ser inconscientemente destruidor. Dia desses falava com alguém que me ama muito, mas não tem a menor idéia de quem eu sou. Eu a amo também e, felizmente, sei exatamente quem ela é. É só um exemplo. A água está subindo e eu não alcanço a portinhola. O transatlântico está afundando e pareço estar ardendo em brasa. E os botes não chegarão a tempo de me impedir de furá-los.

1 Response to "Rimbaud II"

  1. Antônio Moura Says:

    Tem dias em que quebro a escotilha e me liberto, mas saio sangrando com os estilhaços. Em outros, entrego-me à água, vou ao fundo, a fundo e afundo. Renasço no dia seguinte. É a quinta vez que leio este post. Um dos meus preferidos entre os últimos aqui. Abração.